Amanhã

Só existem dois dias no ano que nada pode ser feito. Um se chama ontem e o outro se chama amanhã, portanto hoje é o dia certo para amar, acreditar, fazer e principalmente viver (Dalai Lama).

.Acho salutar para a nossa conflitante existência, os provérbios carregados de sabedoria deste grande líder do Budismo Tibetano, que acreditam ser a reencarnação de uma longa linha de tulkus. Porém, dentro do ponto de vista da realidade dos menos privilegiados financeiramente a coisa acontece de outra maneira. O pobre é uma classe de pessoas que deveria ter um pouco mais de atenção por parte de Antropologos que se debruçam sobre tratados para tentar explicar este fenomeno discrepante na sociedade. Dentro de um lar onde impera a pobreza radical, o analfabetismo é sempre um parceiro de grande assíduidade fazendo com que esta condição paupérrima seja as vezes entendida como algo vindo da vontade de Deus. Assim os filhos deste lar pertencentes a uma rede interligada da sociedade movida pelo capital, não encontra subsidios para viver o hoje com a delicia que o mestre Lama apregoa. Já que este hoje é nocivo não oferecendo perspectiva imediata para livrar-se da falta de recursos. Sobra então o amanhã com suas incertezas para pulsar como referências em forma de guia. E a medida que o tempo passa o hoje vai ficando ainda mais asfixiante, a carestia e as poucas oportunidades acordam antes de cada aurora, e não dormem antes do findar das ultimas horas. O tempo passa e a criança com seus olhos secos sofre a mutação para a adolescencia que não muda o foco, não muda o querer daquilo que não tem, iniciando a critica fase das comparações e das fantasias com as primeiras experiencias sendo adiadas por culpa de atitudes associadas a falta de recursos. Mais uma vez o sonho com o amanhã pode ser o lenitivo para sustentar as pesadas derrotas do dia de hoje. Pessoas ao redor parecem sinais de decadência quando suas histórias sem final feliz são repetidas com o eco danoso dentro dos sentidos e o tempo passa, ao chegar a fase adulta vendo que tudo que foi planejado para este amanhã foi mutilado no caminho, atropelado com a inexplicável violência do destino, este homem agora queda de olho no infinito e vai pensar na morte. Como uma tormenta no sub-consciente de um hoje cada vez mais pernicioso, os doces prazeres que ainda restam vão descendo vertiginosamente em cadeia sob a otica do desespero por um tempo que passou sem sentir. Resta o amargo que insiste na lenta mastigação enquanto pequenas gotas do sumo permeiam vasos e arterias. E ontem se passou na ansiedade deste hoje que chega sem rumo. No olhar fixo que varre o firmamento as nuvens imensas parecem crianças brincando ao longo da imensidão, repteis que rastejam deixando um caminho torto e branco sobre o azul que não se move, uma gigantesca ave abre suas asas e desaparece soprada pelo vento, mamiferos quadrupedes, humanos miticos e o dia anoitece no fundo das serras. A noite um incotável numero de estrelas cintila dentro da iris, os olhos contemplam as idas fugazes dos cometas, os mistérios das pequenas luzes que já se foram mas seus brilhos permanecem guiando os caminheiros que se aventuras nas noites sem lua. Assim o tempo de cada um se acaba. Todavia, a esperança do amanhã ainda persiste, mesmo que seja no ultimo suspiro.