Quando na menoridade, viajava eu com a família, lá pelos Campos das Gerais,nos hospedamos num lugarejo no alto da Serra do Salitre,comarca na época da Cidade de Patrocínio,Estado de Minas Gerais,na casa de um dos tios meus que possuía uma pequena fazendo nos arredores do povoado,num local denominado Varões( Nome da Fazenda ).
Após noites á luz de lampiões de querosene, pois lá pelos idos de 1964,o pequeno povoado ainda não contava com energia elétrica por 24 horas,quando muito um gerador á diesel que só fornecia energia e fraca até as 21hrs.
Depois deste horário era desligado e tudo ficava um breu,principalmente nas noites sem luar.
Bem, ouvíamos atentos eu e meus muitos primos e primas,ao pé do fogão á lenha ,os causos contados por meu velho tio sobre assombrações,lobisomens e sacis,mula sem cabeça e cavaleiros fantasmas que andavam rondando a região nas madrugadas cinzentas;( Claro que ficávamos fascinados e apavorados ao mesmo temo!)
Meu tio era sagaz, pois assim evitava que saíssemos pela noite pra ficar na rua á brincar com os demais de nossa idade,e mesmo minha mãe desmentindo,ele consegui incutir em minha mente infante esta crença que carreguei comigo por muito tempo.
Só que ele as vezes não percebia que podia construir uma barreira inclusive para o trabalho,pois depois daquilo o bicho pegou...
Meu tio pediu que eu e meu primo José Valdir ,fôssemos para um frigorifico levar pão na madrugada ( ele tinha na cidade uma padaria) e trouxéssemos carne na volta,fazía-se um escambo, ( O local onde estava o chamava-se Salitre) e tínhamos que ir na carroceria de um caminhão que também recolhia o leite das fazendas do entorno, por isto as 4hrs da madrugada teríamos que estar na beira da Estrada pra pegar o caminhão!
Bem...ao levantar-me ainda com muito sono,sai para fora da casa pra ir lavar o rosto,pois os banheiros ficavam do lado de fora( uso comum na época naquele local).
Ao olhar para a direção do campo, arrepiei-me da cabeça aos pés pois um enorme fantasma de braços abertos acenava para mim...
De proto chamei meu primo que também se assustou, daí chamou a mãe dele,tia Jurandir ,que veio socorre-nos...e ficou a gargalhar depois,quando revelou-nos o fantasma...
A madrugada criou uma ilusão de ótica, pois um enorme lençol branco estendido no Varal ao longe era o temido fantasma...neste meio tempo,tudo bem explicado mas não muito convencidos nós embarcamos ainda apavorados na carroceria do caminhão ,naquela madrugada gélida das montanhas gerais...
Dois dias depois meu tio Ordenou-nos que fôssemos dormir na casa da fazenda que ficava a uns 5 km, pois ele não poderia ir lá de manhã...
Deveríamos chegar la,e pela manhã ordenhar as vacas,recolher os ovos e alimentar as galinhas...
Bem, parecia fácil até que ,enquanto íamos montados ele num cavalo e eu num burro não começasse á escurecer bem rápido.
Pra chegar à fazenda teríamos que cortar caminho por um cerrado, um tanto fechado de vegetação que cobria os animais...
Num certo trecho, ouvimos um barulho no mato e já nos pusemos em guarda...
Como de costume,na noite anterior ,meu tio ao redor do fogão á lenha havia nos contado a história de que ali por aquelas bandas onde há ainda hoje um corte de estrada de ferro,freqüentemente cavaleiros eram visitados por assombrações que pulavam na garupa do cavalo e os tomavam dos mesmos...e que se um dia isto acontecesse,deveríamos gritar valei-me nossa senhora!
Aff...Naquela hora nem saberíamos o que fazer ,pois não se poderia adivinhar e...aconteceu o temido ...Os animais se assustaram...o que fazer? Já veio na lembrança a história do Coisa Ruim..E o medo dele pular em nossa garupa?! O meu animal,lógico,tinha que ser o burro...Empacou o maldito ,e meu primo disse-me : Você tem que descer e puxar o beiçudo pra ele desempacar...
Ah,tah!
Eu descer naquela escuridão,e dar de cara com o Tinhoso? Nem morto!
-Se você não descer ele não sai daí,dizia meu outro primo Neli...
Eu é que não faria uma loucura destas, pois minhas pernas não me obedeciam, minhas pulsações estavam á mil...
E eu disse: - Desça você então e puxe-o pra mim,por favor,ao que ele respondeu, fugindo da responsabilidade:-se eu descer , ele disse o meu cavalo corre ....Ele também estava apavorado,mas caboclo do mato não quer demonstrar isto!
Mas a providência nos ajudou,e na nossa gritaria o Tinhoso correu e se revelou-se á nós ,pois gritávamos : Valei-me Nossa Senhora como aconselhado...
O tal Coisa ruim do mato, era tão somente um tamanduá, que estava tentando fazer o mesmo caminho para seu destino e usava a mesma passagem...
Moral da história:
A imaginação prega peças incríveis na cabeça de crianças que são sugestionadas por adultos que as querem só divertir...
Hoje ao relembrar,rimos á beça de nossos fantasmas da infância.