DESPEDIDA DO PROFESSOR

Estou de partida! Saindo de meus sonhos e de minhas conquistas. Uma vez, quando estudante ainda, minha avó disse que não havia profissão melhor do que professor, pois todas as pessoas deveriam passar por este profissional para ser alguém. E sempre, mas sempre, adorava brincar de escolinha e lógico, ser professor. Estudava para ser bom. Nunca gostei de matemática, mas amava a língua portuguesa e me formei em Letras.

Lia e leio muito. Muitas vezes obrigado pelas professores Rosa Borges e Rosa Cocenzo, duas professoras que sempre souberam fazer de nós alunos leitores e entendedores da nossa alquimia lingüística. Aprendi, com elas, que sem a língua portuguesa não somos nada, por mais que eu fosse um cara “descolado” e soubesse adequar minha linguagem dentro do contexto amigos e do contexto social, ainda assim, seríamos fracos no que tange comunicação. Isto foi pelos áureos tempos de 1980-84. Não havia a invasão da linguística que acredita e defende um empobrecimento da língua, tanto falada quanto escrita. Rosa Borges, corrigia com caneta vermelha e dizia que era para não esquecermos da próxima vez, e não esquecíamos. Com ela reprovei na quinta séria e não fiquei traumatizado. Ela estava certa, porque assinar uma incapacidade? Ela estava certa e agradeço sempre.

Depois de muito, acabei por fazer faculdade (PARTICULAR) e paguei por ela. O único patrocínio que tive foi o PAItrocinio que socorreu em meses tenebrosos de ganhos menores e ou de gastos maiores, mas não tive ajuda do governo, seja municipal, estadual e ou federal. Cumpri minha meta às minhas custas e assim, depois de formado, feliz por ter concluído mais uma etapa da escalada de minha evolução sai a busca do meu lugar ao sol. Afinal, foi assim que aprendi. Sem traumas, sem neuroses e sem problemas para o meu futuro.

Depois de tudo concluído, entro para a labuta da escola estadual. Entramos como professores evetuais que entra para substituir professores que estão estressados, cansados, com a saúde em risco e à beira de um colapso, por salas entulhadas de pessoas e jamais lerão eu escrever alunos, pois alunos vão à escola para aprender e estudar. Os professores deixam suas vidas e suas famílias para cuidar de marmanjos que nem sabem o que é viver e já sabem o que é sexo, o que é droga, o que é marca de roupa, celular e sabem muito, mas muito bem sobre futebol e seus lances.

Paro aqui! São três anos que sou O B R I G A D O a fazer um prova no final do ano, para “provar” se sou bom ou ruim. Como se eu tivesse tempo para ler a bibliografia que é pedida. E ainda por cima, colocam duas perguntas por páginas. Uma prova extremamente longa, cansativa e cheia de dualidades no entendimento, enquanto cobram de nossas pessoas o mínimo dos mínimos, nada perto do que utilizamos em sala de aula. Chega! Não sou incompetente, não roubo ninguém, até porque se faltei tenho de provar a minha falta. Não tenho privilégios, não tenho vale alimentação como todos, há mês que vem, há mês que não vem. E durmo, quando não penso em como “domar” aquela sala. Qual o caminho devo tomar com aquel’outra turma, de que forma ficaria mais fácil ensinar o Adjunto Adverbial? E ainda sou obrigado a escutar “- Prof. Para com isso! Eu jamais vô usa isso! Senta ai e dexa nois conversa, tem muito babado pra pó em dia!”.

Então, por essa e por outras, saio das salas de aula com o coração dolorido e cheio de mágoas. Não é a toa que não temos mais professores. Não há como ser feliz em uma profissão onde somos tratados como um animal que não estudou e devemos ser adestrados pelas mãos de teóricos. Adoro a teoria, pois pode nos socorrer em várias situações, mas dizer que usar a teoria fará diferença na qualidade da educação, desculpe, isto é ilusão! A sociedade está em estrema desestrutruação familiar. Pais que cuidam de filhos, pois a mãe decidiu ir viver com outro, mãe que está lutando com a vida para que seus filhos tenham o mínimo de luxo e conforto, mães desesperadas em ganhar dinheiro para suprir as necessidades da casa e preocupada com seu filho que pode estar entrando para o luxo das drogas e a vida está ai, enquanto nós professores vamos para as salas de aula para ensinar EDUCAÇÃO. Desculpem mais uma vez, mas sou instrutor e não educador. Educador são os pais e as famílias. As palavrinhas mágicas como “por favor, licença, posso, desculpe” e tantas outras que fazem a diferença estão desaparecendo. A escola perdeu o seu valor de ensinar conteúdo para passar educar conceitos básicos e a bagunça está justamente quando a ideia de educação está tão confusa quanto ao conteúdo a ser passado para nossos alunos.

Hoje estou saindo deste mundo na esperança de que haja um ser que consiga entender que avaliar professor não é por “provinha” e não se deve dar bônus, como forma de incentivar a não reprova dos alunos. O caminho está tão cheio de falhas que o governo em sua santa teoria entende que a culpa das mazelas da educação é do professor.

Chega! Adoraria que meus colegas parassem também e mostre para nosso governo que apesar das ideias serem boas, elas não funcionam e não se pode dizer que um professor é bom ou não. Conheço vários que mais faltam que vão e estão em sala de aula lixando unhas e falando barbaridades para nossos estudantes e com tantas faltas e afastamentos estão estudando para não perder a “boquinha”. Professores em plena saúde tiram licença médica para estudar e continuar afrontando bons profissionais. Mas, ironicamente, o governo avalia na prova, no mérito e não na capacidade, na presença, na qualidade de seu trabalho e sinceramente, avaliar o professor pelos resultados das provas é como avaliar a plantação. Que se chover teremos bons frutos e que se não, teremos péssima colheita.

Senhor Governador e seus “companheiros”, acredito que devam avaliar-se à avaliar-nos. Pois na média, o senhore “estado” tem excelentes profissionais que estão cansados desta labuta de dormir com uma regra e os seus Gênios da lâmpada, acordam com novas regras e mudam tudo. Parem de inventar moda e façam o que devem fazer, tirem esta porcaria desta “progressão continuada”, pois a vida não deixa passar sem cumprir suas OBRIGAÇÕES. Não sejamos mais coniventes com uma situação de acolhimento das falhas. Um aluno que não sabe, não deve continuar, um aluno que não entendeu, não deve seguir com a suposta ideia de acolhimento de estudos paralelos. É falho e não acontece. Pare de acreditar que se não temos bons resultados a culta é da escola, do professor, da instituição ensino. A culpa é de um sistema fragmentado por várias ideias que não se juntam. O professor sabe o que eve fazer e como trabalhar, portanto, faça como antes. O que deve caber ano e com certeza o educador conseguira trazer melhores resultados. Não dê força ao fracasso, pois é bem isso que escutamos. “ Para que estudar se vou passar?”. Revejam suas ideias que estão mais perdidas que as ideias de uma criança de cinco anos.

Mais um ano não atinjo as metas propostas, portanto, vou em busca de outros prazeres e de repente algo que me motive.Não quero ter uma ulcera, muito menos sofrer mais com provinhas sem função e ou sentido. Quero viver meus finais de semana, pois a muitos estou em casa corrigindo provas, trabalhos, preparando aulas e tudo o mais para no final do ano ser taxado como incapaz. Se querem os melhores, que tenham mesmo, pois o pior aqui está de partida. Boa sorte para vocês, pois vão precisar. Veja os dados deste ano, não houve professores suficientes e não haverá mais, pois quem está dedicado a ensinar não tem tempo para bibliografias gigantes e provas para vestibular. Vai mesmo por este caminho queridos.... Um ia quem sabe eu possa voltar. Enquanto isso, aconselho para se prepararem para irem às salas de aulas, pois afinal, quem sabe fazem valer os salários, vale alimentação, vale terno, vale moradia,vale alguma coisa, cartão de crédito e todos os outros vales e os não vales que saem pelas bordas das cuecas, malas, calcinhas e até pelas meias e possam assim vale pelas quatro horas semanais que trabalham.

Fica aqui o meu descontentamento e quem sabe em uma próxima estarei aqui agradecendo as mudanças REAIS em prol do educador que deveria ser o único a ser respeitado, pois para ser um médico, um dentista, um fono, um político, passou pelos aprendizado do professor.

Contista
Enviado por Contista em 01/11/2011
Código do texto: T3310694
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