Essa tal felicidade...
Tere Penhabe

Alguns poemas que lemos, são realmente inspiradores...
Além de inspiradores, há os que apresentam erros grotescos de avaliação desse estado de espírito maravilhoso e inenarrável, que é a felicidade.
Grande parte de nós, seres humanos, cometemos o absurdo de colocarmos a "culpa" ou a responsabilidade da nossa felicidade, nos ombros de alguém.
Quanta incoerência!
O que pode ser mais nosso, mais pessoal, mais intransferível, do que o nosso estado de espírito?
Quem poderá nos fazer feliz, se negarmos veementemente que somos parte do mundo, e não o mundo, parte de nós?
Para ser feliz, precisamos entender sobretudo, que a vida, o tempo, o mundo, os outros reles mortais que nele habitam... não são nossos súditos, pelo contrário, nós é que temos que nos adaptar a eles, e aceitar os desígnios que nos são destinados, oriundos, é bom que se diga, das escolhas feitas por nós mesmos, do exercício do nosso livre arbítrio.
E mais grave ainda, é quem alia a felicidade ao amor que se tenha, sem estender o conceito, ao amor que se dá...
Essa tal felicidade... é tão mais fácil do que parece! Tão mais ao alcance da mão, do que julgamos!
Nós podemos distribuí-la, contagiar as pessoas à nossa volta, pelas energias positivas que se pode colher de alguém que emane felicidade, mas isso será apenas um estímulo, o testemunho, a esperança de podermos distribuí-la também. Ninguém jamais nos fará feliz, anulando-se para nos satisfazer, para aquietar os gritos do nosso ego.
E se não conseguimos ver e entender isso, corremos o risco de fazer muita gente infeliz, e pior que tudo, ser mais infeliz do que todos eles juntos... tão óbvio isso!
Ninguém gosta de estar ao lado de alguém que cultiva tristeza, que se auto denomina o calvário do mundo, que se agarra a tudo e a todos, tentando arrancar deles, a sua própria felicidade... que triste!
Não há prazer numa companhia assim, apenas dor, muita dor, mais contagiante que a própria felicidade.
O canto dos passarinhos... o vôo da águia no céu... o rumor de uma onda estourando na praia... uma música de boa qualidade... uma taça de bom vinho... riso e sorrisos das crianças... o pão na mão de quem tem fome... o bálsamo confortante do apoio para a alma que sofre ao nosso lado... as borboletas intrépidas e azuis voando livres pela esplanada... o sol nascendo... o ocaso... o horizonte, sempre fonte de tantas promessas e esperanças... a alegria de um amigo que se mostra vitorioso em qualquer dos seus afãs... são tantos os motivos para sermos felizes, e um, apenas um, para bloquear essa maravilha, para nos isentarmos do direito de ser feliz: não enxergar além do próprio umbigo...

Santos, 20.02.2005
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