FIM

Este é um texto autoral. Um pequeno texto autoral, cujo parágrafo de abertura foi inserido após o último ponto final, como se quisesse dizer que todo começo precisa necessariamente de um fim que o anteceda.

Minhas leituras foram muitas. Quando menino lia tanto que meu velho pai passou a me levar aos estádios de futebol com medo de que meus ossos atrofiassem. Ganhei uma paixão de menino (que carrego pela vida) sem, contudo, ter perdido meu amor pelas letras.

Hoje o menino é lembrança e não consigo enxergar mais tanta beleza nas prosas e poesias (como me faz falta a emoção causada por boa leitura, meu Deus!). Afasto-me da crítica literária ‘posto que’ presunção exacerbada analisar qualquer coisa por essa via. Falo de tesão, de endorfina subindo pela coluna cervical e tomando todo o corpo de assalto.

Não falo de histórias, com seus princípios, meios e fins; finais jamais me comoveram. Não falo de estilo, de modo, de jeito. Falo de maravilhar, de respirar fundo, de revirar como se eviscerando.

Mas mais não falo, por absolutamente não saber distinguir o que é sentido do que é palavra. E também porque minha leitura já não diz e minha escrita já não basta.

Isso, essas coisas, são bobagens, apenas bobagens. Reflexões de todo inúteis que insisto em continuar fazendo. Não estou mais absolutamente certo de que escrever me faça algum bem. E talvez – melhor seria cravar: certamente - escrever seja, em verdade, ato reflexo de meu vício de ler. O fato é que se ler tem me deixado impassível, escrever tem me tornado triste.

Como eu gostaria de poder fazer algo com minha escrita que não fosse apenas masturbação retórica de idéias que me afligem. Há de se ter alguma explicação para a escrita como canal que desopila a consciência. A dicotomia da escrita em canal e panacéia é algo que melhor preciso entender.

Queria poder escrever como imagino falar. Queria ser lido, ainda que somente por mim (em insidiosa revisão que nunca faço), como se sussurrasse ou gritasse; como se olhos, bocas e movimentos impregnassem todo texto.

Mas não tenho tido sucesso. As letras se sucedem e vão perdendo a força em palavras que se esvaziam até silenciarem todo o som. Letras mortas que terminam parágrafos e textos sem nada dizerem, sem nada deixarem.

Palavras, enfim, que não dizem, numa espiral paradoxal aparentemente infinita: se não dizem, não foram faladas; se não foram faladas, jamais existiram.

Por vezes, sinto que escrevi demais.

E que jamais escrevi.