Expressões do Amor

Minha filha de 10 anos adora animais.

Tigres, cavalos, ursos, golfinhos...e claro, gatos e cães, aliás, especialmente esses!

Não por serem domésticos, ela tão pouco é domesticável... e sim por estarem tão próximos e abertos a uma relação de fidelidade e incondicional apreço, que ela simplesmente se dispõe à entrega do compartilhar...

A possibilidade certa de rolar com eles pelo chão, mergulhando em suas carnes e pêlos num estado de felicidade crônica é a mesma de saber-se, tal qual eles, um bichinho irresistível a toques e carícias...

Nas vezes em que a levo ao zoológico, ela passa longos minutos olhando nos olhos dos elefantes, macacos e outros mamíferos, captura-os com o olhar e juro que por um momento, pousa em meu coração um calor diferente...

Pela minha mente, corre célere o pensamento de que minha filhinha está vivendo algo de sagrado com todas essas espécies...

O que assisto é a uma total empatia que se dá entre eles, instinto puro...

Uma união de almas que me assusta ao mesmo tempo em que pulsa em todo o meu ser a admiração e o silêncio...

Confesso que é desconcertante a reverência com que sou tomada nesses breves instantes.

Constrangedora, pois essa percepção é flagrante e reveladora da distância que impomos a esse universo tão simples, pleno e selvagem do qual, via de regra, nos descobrimos apenas como espectadores.

Esse cenário que chamamos de Natureza de repente grita, invade e reivindica um lugar que quer se expressar de dentro pra fora.

É aguda a dor de perceber o quanto a civilidade deprime, cada vez mais cedo, o ser humano ajustado a viver nas selvas de concreto, que se tornaram as grandes cidades.

Tanto, que até a interação amorosa de uma criança com o todo do qual faz parte, sensibiliza como uma saudade...

Enxergando esse ser que saiu das minhas entranhas, a ser totalmente o que é, meu corpo físico quase a acompanha nesse movimento que ressoa do íntimo, qual convite a dançar de pura nostalgia...

Um momento após, sinto a couraça, como o peso árduo a carregar...o peso que me cabe!?

E ao vacilar me preservo no caminho seguro: limpa, cheirosa e “arrumadinha”... enquanto meus corpos mais sutis continuam a gritar por liberdade e leveza.

E ao me reconhecer, adulta, arraigada a valores tecnológicos e comportamentais que distanciam anos-luz dos encantos e da simplicidade do contato espontaneo com a Natureza, pergunto: há quanto tempo, quando e como deixamos de ser inocentes, como as crianças e os animais?

Aonde perdeu-se o dom de sermos seres naturais e passamos a usar máscaras para nos esconder?

Por quê usamos véus e truques para vender uma imagem aceitável de nós mesmos ao invés de desfazermos as sombras que nos impedem de ser apenas o que somos?

Decido deixar que essas perguntas se desvanesçam no ar e volto a mim com ternura, em plena aceitação dessa sombra que também sou...

Tentando aliviar a tensão dessas polaridades, agora me abro de corpo inteiro, para abraçar a minha “cabritinha”, que vem correndo ao meu encontro para dar e receber sorrisos e carícias plenas de alegria!

Quer saber, hoje é domingo e ainda tenho o dia inteiro pela frente para me lançar aos impulsos de um ritual cheio de vida...

Quero compartilhar mais cheiro de natureza, de bicho e de gente, com um ser amado...

Quero lágrimas de emoção, olhares de sedução, risos largos de tesão, de diversão...

Quero a linguagem natural do amor!

Instintos à flor da pele, selvagem e sutil...erótico e cósmico...

Quero tudo!

E ainda a paz de dormir agarradinha com meu urso...

Lídia Carmeli
Enviado por Lídia Carmeli em 05/11/2011
Reeditado em 08/11/2011
Código do texto: T3319215
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