BOLA FORA
 
 
Era domingo e o relógio na parede do bar marcava exatamente 13 horas.
Amilcar acaba de chegar e divisa o amigo Eustáquio sentado àquela mesinha que só dá para 2 copos, uma garrafa e um pratinho de petiscos. Puxa a cadeira e senta-se à frente do seu companheiro.
- E aí, Estáquio? Pô, hoje é domingo e você com essa cara de segunda-feira?
- Pois é, mano...
- É o que?,  Desembuxa logo, cara!
- Saí com a Ritinha.
- Ah, então tu devia tá mesmo era cantando e pulando. Aquele mulherão!!
- Amilcar, ninguém melhor do que você pra saber como eu cacei aquela bandida. Gastei todo o meu português, fiz prosa e verso, forcei coincidências, fiz o cacete...e nada!
- Hum...
- Mas, ontem, não sei porque cargas d'água, tava eu bem na minha, bermudão, chinelo de dedo velhinho, mas pensando nela é claro, quando o telefone tocou. Sabe quem era?
- Hum...
- Pô, para de falar hum,hum, diz alguma coisa.
- H...eu não; você fala e eu escuto.
- H... então era ela mesmo, pra me pedir ajuda com seu DVD, que deixou de funcionar. E disse mais. Adivinha.
- H... Já sei, mandou você chamar um técnico.
- Amilcar, ás vezes fico me perguntando se você tem cérebro mesmo, homem.
- Hum...
- Ela, simplesmente, pediu que eu fosse correndo, do jeito que estava, depressinha. Tu sabe, Amilcar, que eu não tirava ela da cabeça, sonhava com ela, via - na rua - dezenas de Ritinhas  acenando pra mim. Tava ficando doidão.
- H...e aí?
- Daí, cabeça de melancia, eu fiquei gelado primeiro, depois fui acometido de febre e fiquei alí suando, extasiado, olhando pras paredes.  Passado o estupor, me mandei pra casa da Ritinha e, logo que cheguei à porta do prédio, senti as pernas bambas, percebí que o coração tinha migrado para o pescoço, pelos todos eriçados que nem cachorro com sarna e uma finíssima agulhada de cólica intestinal.
- Hum...
- Chego no apartamento, toco a campainha e me aparece a Ritinha, vestida somente com uma fina camisa social de homem, com os três primeiros botões abertos! Caramba, cara, dava pra ver aquele corpão todinho e eu fiquei de olho grudado naquele umbiguinho. Tua sabe como eu gosto de umbiguinho, hein?
- Hum...
- Aí, ela me pegou pela mão e me levou para o sofá da sala, que foi a distância maior que eu poderia percorrer com aquelas pernas de borracha.  Aí, voltou o suor frio, seguido pelo calor de vulcão e de uma cólica mais forte. Tá ouvindo, meu?
- H... claro, mano, puxa o carro.
- A conversa foi rolando, esquentando e, de repente, fui arrastado para o quarto e só vi quando a camisa voou longe e aquela mulheraça se jogou na cama.  Foi o suficiente; aquela visão maravilhosa, tão desejada e tão próxima  soltou o meu freio-de-mão e a cólica explodiu, quase não me dando tempo de um "desculpe" e chegar ao banheiro.  Daí pra frente, meu caro, foi tentativa-banheiro, banheiro-tentativa.  Já desanimado, sem moral, balbuciei alguma bobagem, me dei por vencido e joguei a toalha no ringue.  Ritinha, sem uma palavra até alí, levou-me até a porta e quando eu insinuei "um outro dia", ela com gelada calma, me disse:
-Nã,nanã, nanã... não tem outro dia, Estáquio.  Seu cagão!
- Pô, Eustáquio, que cagada, hein?
-... literal e figurativamente, Amilcar.
- Vem cá; e o DVD, cara?
- Sei lá! Acho até que ela nem tinha DVD, mas mesmo que tivesse, eu esquecí as "ferramentas"... e sem comentários, seu nojento!


paulo rego
Enviado por paulo rego em 06/11/2011
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