Os sorteados vão pro céu

A nova onda da imbecilizante-mor de nossa nação, a TV, é a “caridade desinteressada” de certos apresentadores, que descobriram um filão que acaba sendo copiado por muitos.

Várias pessoas escrevem para suas produções pedindo ajuda; uma é escolhida e recebe um socorro espetacular. Casa própria, carro, móveis, e outras coisas mais, conforme as circunstâncias. Sempre famílias paupérrimas com uma história triste, que é narrada e esticada como roteiro de novela. Um descarado jogo com as emoções das pessoas.

Que mal tem isso? Antes, não é algo meritório o que eles fazem? Bem, do ponto-de-vista da família sorteada, é o paraíso. Mas, devemos ver a coisa num espectro mais amplo.

Para um público mediano no aspecto intelectual como o nosso, o apelo emocional absorve um possível senso crítico, e eleva a altos índices o IBOPE, de modo que interessa muito aos patrocinadores, doarem tudo “de graça”.

Os apresentadores fazem suas poses de super-heróis, humildes, diante das câmeras. A mim, parecem com o Superman, com a cueca à mostra.

A verdadeira caridade se faz sem câmeras, onde existe carência, sem platéia. E o mérito desfila sóbrio; como fim, o carente mesmo, não aplausos ou bens advindos em troca. Isso é obsceno como certas “dignidades” religiosas que lavam os pés aos pobres diante das câmeras para mostrar sua “humildade”, depois bebem seu vinho em cálices de ouro.

Ora, a vera humildade é como moeda de colecionador, preciosa de se ter, mas não se usa para comprar nada, tê-la, basta. Essas loterias ao vivo, rendem muito aos seus “benfeitores”, seja em patrocínio, prestígio, e ainda desfilam como deuses sobre uma platéia ignorante.

O pior; drogam as pessoas no sentido de que a vida é um conto de fadas, onde, ao estalo de uma varinha mágica, que eles possuem, claro, toda água vira vinho, e do melhor. A idéia de premiar o trabalho e o mérito, o preparo, não parece prezada, e as pessoas de situação precária passam a fantasiar com o sonho de serem os próximos “sorteados”.

Sinceramente, prefiro as loterias do governo, que são mais honestas. Deixam as coisas em seus devidos lugares, loteria mesmo. Sem jogar com as emoções, apenas com a cobiça humana, e não produzem nenhum deusinho bosta, que ganha seus três ou quatro milhões por mês, para ser adorado sem mérito algum, apenas produzindo engano.

“Pouco conhecimento faz com que as pessoas se sintam orgulhosas. Muito conhecimento, que se sintam humildes. É assim que as espigas sem grãos erguem desdenhosamente a cabeça para o Céu, enquanto que as cheias as baixam para a terra, sua mãe.” Leonardo Da Vinci

Leonel Santos
Enviado por Leonel Santos em 06/11/2011
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