Da falência da sociedade perante o crime

O "crime organizado" só é possível com a complacência e a desorganização da sociedade. Esta não é uma frase nova e nem de efeito. Cidadãos(ãs), perante a banalização do crime, acabamos todos aceitando a "normalidade" dos fatos crescentes em termos de violência. Ficamos todos tão saturados de ver e ouvir situações envolvendo crimes, torturas, corrupção e desmandos nos diversos segmentos sociais que, um bebe morto por incompetência, um idoso assassinado por roubo, uma mulher agredida por um companheiro (ou ex), um menor armado agredindo colegas e professores, uma autoridade política ou policial, um fiscal corrupto, um corruptor do chamado high-society, um delinquente entre os chamados bem-nascidos, um assassino alcoolizado ao volante, e muitas outras situações já não nos tocam mais. Que dizer de algo que consiga nos chocar. Nesta apatia ética e moral é que se gerou o crime organizado. Com tempo, tecnologia e afastamento dos encarregados de tentar manter a lei e a ordem, sobram meios para aqueles que tem por princípio a prática dos diversos crimes a que se propõem. Não discutimos mais os caminhos para a satisfação dos desejos mais básicos do convívio em sociedade. Aceitamos passivamente os entraves que alguns colocam na interpretação das leis e os tornam depois como jurisprudência. Trocamos nossas caras pintadas de revolta há alguns anos, pela maquiagem pesada e um nariz de borracha vermelho como os palhaços que somos, acreditando que assim, com a deformação do visual, nossas identidades sejam preservadas pelas diversas camadas de creme colorido. Já dizia Aparicio Torelly que o voto é secreto para que não venhamos a nos envergonhar dos representantes que escolhemos.

Essa digressão deve-se aos recentes acontecimentos entre estudantes da nossa mais importante e criativa universidade. Pessoas que obtem, sem custos, uma formação de reconhecida excelência, amparados por mestres e equipamentos de ponta, e no entanto, levados por forças não tão ocultas se dispõem a tentar subverter a ordem. Parem de fazer a apologia das drogas tão acintosamente, vão fumar e cheirar na intimidade de suas casas, não tenho nada com o que se faz entre quatro paredes, dêem um ambiente seguro para seus colegas e demais frequentadores do campus, onde seja possível sacar dinheiro em caixas eletronicos e deixar os carros estacionados sem risco de furto ou roubo, permitam que alunas, funcionárias, professoras e demais pesoas possam caminhar com tranquilidade por esses maravilhosos campos verdes, para lazer ou esporte, sem medo de estupradores e não precisarão de policiais militares no recinto. E sobretudo, não tenham a vergonha de mostrar a cara quando protestarem. Assumam seus atos sem precisar cobrir o rosto com camisetas ou outra coisa qualquer como fazem os marginaizinhos flagrados nas favelas periféricas.

Quando a casa cair, e vai cair, até os impérios caem, os seus mentores criminosos negarão, constritos e de mãos postas, que sequer o conhecem, e conseguirão outros bois de piranha para vôos maiores e mais rentáveis e seguros. E voces ficarão apenas como uma lembrança triste de um curto período de idiotice. Pode-se se dar bem por um tempo. Se dar bem o tempo todo é impossível. Seu próprio fortalecimento deverá ser efêmero pois irá colocar em risco o poder do seu manipulador. E isso não é admissível. E num amanhã próximo será possível ver alguns de voces na mais reacionária posição, tentando boicotar privilégios alcançados pelos que se preocuparam em melhorar a sociedade. Mas isso já é mais uma repetição da história.