Felicidade fingida não dura

Não chora. Vai passar. Deixa isso pra lá. Vai sair, se divertir. A fila anda. Bola pra frente. Esses são os conselhos de mestre, que todo mundo já ouviu e já falou um dia. Porque a tristeza é quase um tabu. Algo a ser evitado a qualquer custo, maquiado com sorrisos, enterrado com remédios, tratado com chocolates e/ou psicólogos.

Dizemos “esquece isso, enxuga as lágrimas”, pois ninguém gosta de ver o outro, querido, sofrendo. Lamentando-se com os “e se” da vida, construindo sua infelicidade na exata proporção em que o ex-amante declara alegria no Facebook, olhando pela janela o emprego perdido, relembrando um tropeço extremo, a morte de alguns sonhos.

A regra nessas horas parece ser a de se distrair ao máximo. Forçar-se a encenar alto-astral até que essa mentira se torne verdade. Beijar mil bocas, beber mil cervejas, ir a mil churrascos, ver mil comédias já que o constante movimento e barulho não abre brechas para suspiros deprimentes, impede que seu raciocínio vagueie pelos setores da insatisfação. Mente ociosa é tentação para o diabo, certo? Enquanto a agitação te força a viver no agora.

Mas ninguém consegue manter o barulho para sempre. As luzes da boate se apagam, o furor enfraquece, as pessoas se dissipam cada uma para o seu canto. Uma hora, cedo ou tarde, vem o silêncio e o peso inevitável de sentimentos que, por mais ignorados que sejam, jamais se calam completamente.

O mundo esqueceu que, às vezes, a melhor solução para a tristeza é justamente chorar. Ignorar as vozes alheias para ouvir somente a si mesmo, o próprio drama espetacular, sem a necessidade de censurar no desabafo as declarações que outros não querem ou não devem escutar. Permitir-se um momento em que você pode maldizer o universo por suas piadinhas de mal gosto, xingar, espernear. Ou apenas se encolher no canto da cama, cantar alto músicas breguíssimas, devorar um pote de sorvete enquanto olha fotos antigas.

Reservar uma tarde da vida para sentir a tristeza em toda sua intensidade, lágrimas rolando soltas pelo rosto, admitindo para si até os motivos mesquinhos da sua infelicidade, é uma forma de exorcismo. Joga no ar em vez de empurrar para o fundo da mente as lembranças que apagam seu sorriso.

O perigo de se tornar um deprimido incurável não está no pranto, mas em achar que a tristeza nunca passará ou, pior, que ela vai desaparecer se você fingir que ela é irreal. A verdade é que existe um bom choro. Aquele que te alivia, tira o nó da garganta e, no final, te permite recolher os pedaços quebrados, sacudir a poeira e dizer chega!

Consumir a tristeza até sua exaustão te ajuda a entender que quase nenhuma dor é mortífera. E o momento em que o mar de lágrimas seca é sua hora de parar com a auto-piedade, erguer a cabeça como alguém que conhece a própria tristeza, mas que também faz questão da felicidade. Quando isso acontece, não há mais a necessidade de forjar sorrisos e forçar como um desesperado que a fila ande. Isso acontece naturalmente, é sincero. Uma alegria que se mantém até na quietude dos finais de noite.