AS CERTIDÕES DE NASCIMENTO

Joaquim Rosa Abraão e Maria Sebastiana dos Anjos vieram de Alto Gamelão, com seus filhos, morar na capital do Espírito Santo.

Assim que chegaram, ele procurou emprego numa firma de construção.

- Joaquim, você tem todos os documentos que eles estão pedindo para a gente?

- Acho que sim, Joca. Dá uma espiadinha neles para mim.

- Uai! O seu nome está errado! Você está assinando o nome do seu pai?! Que negócio é esse? Olha que isso dá cadeia, cara!

- Sempre assinei assim. Perdi a minha certidão faz tempo.

- Você vai ter que buscar a segunda via no lugar de onde veio.

- Alto Gamelão?! É muito longe! Minha filha está para se casar e também perdeu a dela. Quando eu tiver que ir lá, trago as duas certidões de uma vez só.

E ele fez assim mesmo. Só que, com pouco estudo, não conferiu as certidões. A filha, que sempre assinou Marta dos Anjos Abraão, depois de casada passou a assinar como estava na tal certidão: Marta Pinto Souza. Ela envelheceu dois anos e, por incrível que pareça, tornou-se gêmea do seu irmão mais velho.

A outra filha do Sr. Joaquim tem duas certidões: numa ela é Jurema Augusta dos Anjos e, na outra, Jurema Mateus da Silva. Cada uma com uma idade diferente. Optou pela primeira, apesar dos irmãos acharem que deveria ficar com a segunda, que são três anos a menos.

A mãe, dona Sebastiana, muito alegre, sempre gostou do seu aniversário. Todo ano, no dia 20 de outubro, tinha bolo e refrigerante. Depois que ela morreu, olhando a certidão de óbito, descobriram que ela nascera no dia 10 de maio.

- Preta, olha só! Mamãe festejava o aniversário no dia errado!

- Pois eu não esqueço o dia do meu, Jurema. Cresci escutando-a falar que no dia que a vovó Cota morreu, eu fiz dois anos. Só tive o trabalho de guardar o dia do falecimento dela e aumentar dois anos. E a sua certidão?

- Está guardadinha, junto com as dos meus filhos.

-Você está certa. Quando o papai chegou com a certidão da Marta, ela ficou muito triste. Eles pegaram qualquer certidão no cartório e deram para o coitadinho que não sabia ler.

- E por que o nosso pai não voltou e buscou a certidão verdadeira?

- Ele voltou sim, mas, falaram que não tinha mais jeito.

- Uai! Que eu saiba, só não tem jeito para a morte.

- E para o fogo também, minha irmã. O cartório incendiou e não sobrou nada.