O SILÊNCIO DOS INOCENTES

É difícil ficar calado quando o mundo inteiro, parece, querer crucificá-lo. É difícil ficar calado quando a sua vida desaba.

Não consigo entender como alguém se deleita em apunhalar alguém e ainda sorri vendo o sangue se espalhando enquanto esse alguém agoniza.

Encontrar força para seguir em frente é uma tarefa difícil. Juntar os pedaços e tentar montar um quebra cabeça praticamente impossível.

As manhãs são apenas manhãs. As noites são apenas noites e não vejo diferenças entre o sol e a lua.

O que move a falta de escrúpulos de um ser humano?

Eu já segui caminhos errados e em determinado momento da minha vida decidi seguir a longa e tortuosa estrada da correção.

Cheguei a acreditar que o bem triunfa e as pessoas de má índole sucumbirão.

Olho para mim todos os dias no espelho e me pergunto quem sou eu.

Sinto saudades da inocência dos meus tempos de criança quando não era preciso mais do que uma simples alegria para aquietar minha alma.

Hoje, sou enxovalhado em praça pública, cabendo-me, tão somente, abaixar-me diante dos socos que me são desferidos, como diz Fernando Pessoa.

Mas o que mais dói é que nem sei porque estou sendo enxovalhado.

Engano?

Armação?

Ou simplesmente por estar na hora errada no lugar errado?

Já quis ajudar a construir um mundo melhor. Mas cada vez fica mais difícil acreditar nas pessoas.

Sinto-me fraquejar. Falta-me ânimo.

Penso que um dia acordarei desse pesadelo e voltarei a sorrir com os dentes escancarados.

Quem são meus amigos? Surpreende-me saber que tantas pessoas estão do meu lado... não sei sequer se acreditam em mim, mas demonstram estar do meu lado.

Mas eu prefiro estar só. Tenho companhia apenas o cigarro e uma garrafa de vodca.

Não acredito em conspiração. Quer dizer, talvez exista uma conspiração cósmica que nos remete a provações.

Talvez para tenhamos a compreensão que problemas são efêmeros e a vida não é um conto de fadas.

Poder, dinheiro, são como poeiras que se dissipam e se espalham com a chuva.

É possível que isso seja apenas uma fase, mas, com certeza vou enfrentar outros reveses. Felicidade é algo fugaz, passageiro.

A vida não é bela. A vida é engraçada.

É uma grande piada, às vezes de mal gosto, mas é uma grande piada.

As pessoas são hipócritas, as leis são hipócritas.

Eu só queria poder fitar os olhos daqueles que me acusam.

E entender qual o prazer que sentem em destruir a vida de alguém que nada fez.

Não sei se acredito em Deus.

Mas numa esquina meu carro - dirigido por outra pessoa - se envolveu num acidente que resultou na morte de duas pessoas.

Um velhinho e uma moça, de dezessete anos, começando a vida.

Foi um acidente.

Eu nem estava lá. Faz sete anos.

Todas as vezes que eu passo por aquela esquina eu me lembro dessas pessoas que morreram. Nunca vou esquecer...

Como nunca vou esquecer o dia que meu pai morreu.

E agora, diante de um problema ridículo, falta-me o chão...

Lá fora escuto o barulho da chuva, como se fossem minhas lágrimas...

Não consigo pensar noutra coisa, senão na frase de Martinho, personagem de Voltaire, segundo o qual "o homem nasceu para viver nas convulsões da inquietude ou na letargia do tédio".

O tempo não passa...

Nada me resta a não ser dormir... e sonhar que uma luz venha iluminar minha existência.

WALTER DIAS CORDEIRO JUNIOR

WALTER CORDEIRO
Enviado por WALTER CORDEIRO em 14/11/2011
Reeditado em 15/11/2011
Código do texto: T3334637