A DERROTA FAZ PARTE DO JOGO
Quem conhece o Brasilino?
Ninguém! É claro, pois vou apresenta-lo agora.
Brasilino é um sujeito maduro, olha firme e fala manso, vermelho como o miolo de melancia passada; seus gestos parecem ser decorados e parte de uma ensaiada coreografia. Desde menino já demonstrava vocação à política, porém nunca teve sorte. Participou de diversas eleições, desde vereador a deputado; fundou diversos partidos de aluguel, mas sempre os vendeu fiado!
Agora, já com seus sessenta anos passados, Brasilino é um cidadão sábio, conformado e acostumado com as derrotas, que até resolveu escrever um livro sobre o assunto — com o título: A DERROTA FAZ PARTE DO JOGO.
No lançamento ele convidou toda a comunidade e enviou convites personalizados. O prefeito, o padre, o juiz e o delegado foram seus padrinhos, e a noite de autógrafos por sorte seria a mais disputada do ano. Lá pelas tantas começaram a chegar os fidalgos, acompanhados de suas legítimas esposas — alguns levaram até seus filhos menores. O teatro ficou lotado. Havia gente em filas nas laterais do conjunto já que as cadeiras estavam todas tomadas. Havia gente que Brasilino nunca tinha visto antes, e estava mais velhaco do que mico de circo.
Mas Brasilino fez tudo diferente dos outros autores. Mandou imprimir um livro só, e ao lançamento só levou a capa!
Seguiram-se os discursos, e a melação: elogios veementes ao novo escritor, verdadeiras pérolas que elevavam o velhinho ao teto.
Após o, entretanto, chegou a vez do lançamento propriamente dito, e o Mestre de Cerimônia disse com voz impostada:
— Agora o autor vai fazer o lançamento do livro agraciando a Biblioteca com um exemplar!
Brasilino ergueu-se da mesa de honra dizendo sem mais delongas:
— Para tudo! O livro não é para dar, é para vender!
Houve uma consternação geral, pois quebrara todos os protocolos.
— Eu explico — disse ele. Fiz um único exemplar e vou leiloá-lo desta vez. Quem der mais leva! E tem mais: o livro traz revelações dos bastidores da política acentuando todas as maracutaias acontecidas nos últimos trinta anos, com ênfase as do último mandato.
Seguiram-se os lances, e o preço do arremate ia subindo vertiginosamente até chegar a um milhão de dinheiro. Até que o prefeito, irritado disse:
— Eu pago o milhão se não for editado nenhum outro exemplar e quero também o original e um contrato assinado sobre a barganha.
Brasilino sorriu dizendo:
— Nunca foi tão fácil ganhar um milhão com apenas a capa de um livro.