Álibi em manchete

Com pouco estardalhaço a polícia cercou a casa, em cada abertura ,que pudesse ser uma passagem para uma eventual fuga, havia um policial fortemente armado, mínimas seriam as chances de evasão, a prisão estava decretada.

O ritual foi cumprido, os direitos do meliante foram lidos e, de imediato, iniciou-se uma busca pelo imóvel, à cata de elementos probatórios, que pudessem, definitivamente, selar o sucesso da operação. Enquanto a varredura era processada, os policiais deram início a um interrogatório:

- O Senhor estava no Mercado Alfazaro ontem, entre as 18 e 17,30h ?

- Sim, respondeu o interrogado.

- A câmera interna registrou sua presença.

- E eu não nego que estive no local, consentiu.

- E pode nos informar o que fazia no local, que seria assaltado, logo depois da câmera focalizá-lo?

- Além de comprar café e coador, também para o café, tenho um amigo que trabalha no mercado em questão, sempre passo por lá, para combinarmos um futebol, uma sinuca ou uma balada.

- Mas o Senhor foi visto e fotografado com um revólver na mão; usa sempre o revólver quando compra café e coador?

A pergunta estava carregada de ironia, mas o suspeito não podia usar da mesma ironia, afinal a arma do policial estava, neste momento, nas mãos do policial.

- Eu faço hora extra em uma empresa, onde trabalho até as 24h, e volto a pé para casa, caminhada longa e que atravessa áreas que oferecem risco de assalto, sempre que trabalho até mais tarde pego o revólver deste meu amigo, para minha segurança; estava ali para devolver a arma, fui flagrado pela câmera no momento em que fazia a devolução do revólver.

O Senhor está querendo afirmar que: encontrava-se no local do crime: ali estava para comprar café: tinha um amigo que trabalhava no mercado assaltado; que este seu amigo era dono da arma vista em suas mãos e que estava ali apenas para devolver a arma?

- Sim, foi exatamente isto que aconteceu; confirmando assim todo o relato que havia feito

O policial, na iminência de perder a calma, quase que grita:

- As evidências claramente apontam para o Senhor, empunhando uma arma no momento do assalto, fato que o senhor teima em distorcer, com um álibi esdrúxulo e descabido?

Quase que com tranqüilidade o “artista” responde:

_ Meu senhor, nem tudo que os olhos vêem corresponde à realidade, a verdade pode ser mascarada pelas imagens Eu posso mandar meu cachorro buscar o jornal, que foi atirado pelo jornaleiro, em meu jardim; o cão o trará sem ter lido uma notícia, ainda que seja visto portando um jornal todos os dias.

O argumento do quase indiciado também quase que serviu como uma ordem, o pequeno cão, que a tudo assistia impassível a um canto da sala, saiu como um foguete, foi ao jardim, e voltou trazendo um exemplar do jornal à boca, entregou o jornal ao policial, e para surpresa de todos, o suposto maior amigo do homem afirmou:

- Policiais encontram 29 fuzis na Rocinha, no terceiro dia de ocupação; a Seleção Brasileira derrota o Egito por 2 a 1; o ex-presidente Lula recebe mais uma visita de sua sucessora Dilma...

Aquilo consumou a prisão

Roberto Chaim
Enviado por Roberto Chaim em 15/11/2011
Reeditado em 15/11/2011
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