A Felicidade no Cotidiano

A cada dia que passa, mais aumenta a minha vontade de juntar a minha escova de dentes com a da minha namorada, no copo azul da pia. No entanto, não é de amor que quero falar. O assunto é a felicidade.

Já compuseram sobre ela, simplesmente Tom e Vinícius, dizendo que se parece com a grande ilusão do carnaval – aquele pessoal que trabalha o ano inteiro, por um momento de sonho, de fantasia.

O problema é quando esse esforço dura uns pares de anos e nada de felicidade! Acho que quando ela vem de maneira breve é lucro; quando demora muito, luto.

A vida de cada indivíduo, por si só, vale um livro. Ainda não dá para eu saber como será o meu, se uma aventura arrebatadora ou se um completo drama. Não sei nem se necessariamente tem de ter um final feliz. O que sei que quero são dias felizes. O máximo possível deles.

Quando vou ao cinema, vou sem esperar nada, sem expectativas. Normalmente, gosto de todos os filmes, dos mais diferentes estilos. Certa vez, vi um que mostrava uma mulher que, ao acordar toda manhã, tinha se esquecido completamente do dia anterior. A atriz era linda, o gênero era comédia romântica, e o filme era bem feito. Contudo, só recentemente percebi que foi um dos mais tristes a que já assisti, quando uma reportagem de um telejornal (na verdade, não sei que programa era aquele, pois agora tudo é entretenimento, colocam política, receita e moda em um mesmo bloco, e um inteiro só para futebol) apresentou uma britânica portadora de doença semelhante à da ficção, com seu marido dando depoimento e mostrando, diferentemente do filme, como faziam para ela se lembrar de quem era.

Essa mulher tinha uma resolução a que deu destaque: não ter planos, visto que não podia nem se lembrar deles, quem diria planejá-los, estudá-los, implementá-los. Vivia cada dia e só. Um tanto ou quanto carpe diem. Ou infelizmente uma escassez de opção.

Queria dar um tiro em quem me acordasse amanhã antes das dez. No entanto, irei é acordar cedo e sozinho: para estudar, passar para ver se um negócio que deixei hoje no conserto está pronto, correr para o trabalho, tentar economizar, fazer umas ligações... Sou eu atrás do que me faz feliz.

Se buscarem em um dicionário, encontrarão ansiedade como um dos sinônimos de luto. E ansiedade é do que mais tenho estado cheio nesses dias.

Enquanto meu pai janta e cantarola um desses sertanejos modernos, posso ouvir minha mãe lhe contando histórias. Como ela ainda é sonhadora! Isso é algo que exclamo, ao mesmo tempo em que me pergunto. Como ela ainda consegue ser sonhadora? Pois ignorado o mau gosto musical de um, o que resta são os sonhos do outro, a despeito de todos os anos que já lutou na vida, sem nunca ter obtido nada tão breve ou facilmente.

Meu serviço está no mesmo quarteirão que a minha casa. Muitas vezes, esse é todo o meu mundo. Tão geóide quanto a copa onde lancho com meus colegas de trabalho ou quanto a sala do jantar acima referido.

O horário político eleitoral obrigatório não ajuda, nem o que vem depois. O tempo que passo pensando só ajuda se eu gastar mais tempo agindo do que parado na posição que esculpiu Rodin. Assim como meu caráter vem sendo formado por tudo o que vivenciei desde a infância, meus pensamentos de agora são resultados de diversos fatores que refletem naquilo tudo que planejo, sonho.

Diversos movimentos questionáveis possuem motes no sentido de cada um fazer a sua parte. São caminhadas pela paz que muitas vezes contam com o engajamento da sociedade da hipocrisia, com a desculpa de que começa por você, ou por trás de pedidos de gentilezas, bons exemplos e preservação ambiental, está é todo mundo fumando uma erva ou cheirando um pó, dependendo do poder aquisitivo de cada.

Não obstante, nada me leva a crer no desmerecimento do meu lema de eu dever fazer a minha parte. Meu coração não está mais tão aos pulos como o de Elisa Lucinda, mas igualmente acredito na capacidade de se fazer a diferença, seja por conta própria ou coletivamente.

E, caminhando eu nesse sentido, continuo o que meus pais começaram, junto com os avós que vieram antes deles, independentemente das movimentações sociais de cada época e do gosto musical de cada um.

Desta forma, também amplio as fronteiras do meu mundo, tornando-o até mesmo mais povoado, na medida em que me identifico com mais gente de ideais semelhantes. Chegando, em breve, mas não sem esforço, à felicidade contida naquele copo azul.

Luis Nei Junior
Enviado por Luis Nei Junior em 15/11/2011
Código do texto: T3337793