O COPO

Hoje eu quebrei um copo. Não um copo qualquer, foi um copo especial. Mas o que ele tinha de tão especial? Nada! Ele era sem cor, sem desenhos, sem detalhe algum. O que dava a ele a qualidade de especial era a sua durabilidade. Era quase inquebrável, mas se quebrou. E não são assim as coisas importantes em nossas vidas, quase inquebráveis? Um emprego seguro, uma amizade duradoura e até mesmo um amor. Quanto mais firmes, maior é a segurança de que nada vai se quebrar. Porém, um dia, na vida de qualquer mortal, perde-se um emprego, desfaz-se uma amizade, desilude-se com um grande amor; quebra-se um copo.

Antes fosse ele frágil, na iminência de se quebrar, seria algo esperado e aceitável. Mas não, ele era firme, tinha as paredes sólidas, tivera algumas pancadas e não se abalara. Mas um belo dia, estando todo ensaboado e perfumado, se partiu! Não foi quando estava sujo e usado, jogado em algum canto da casa. Não! Foi no momento em que estava sendo cuidado. O que deu errado?

Algumas vezes nos fazemos esta mesma pergunta sobre nossos relacionamentos. Por que muitas vezes se quebram quando menos esperamos? Pode ser que estejamos ensaboando muito nossos amores com o excesso de cuidado e expectativas em algo que é humanamente quebrável. Talvez o grande “X da questão” seja deixarmos nossos copos especiais um pouco de lado. Não os protegendo tanto com excesso de lavagem, mas também não deixando de usá-los. Pelo contrário, a idéia de deixá-lo guardado na parte principal de nossos armários, é colocá-lo no local mais vulnerável, pois podemos facilmente confundi-lo com algo sem utilidade.

O meu copo especial era na verdade um copo comum e barato, daqueles utilizados primeiramente para outra função, um copo de requeijão, de massa de tomate ou qualquer coisa assim. Mas ele era firme, estável e isso o tornava diferente dos demais que já tinham ido pro lixo, até se quebrar!

Lara Spalla