A Florista

Cruzamento da Avenida Brasil com Rebouças, em São Paulo. Lá vem ela toda sorrisos, oferecendo flores.

Na cidade endurecida pelo concreto, um raio de sol a iluminar, com as cores da alegria, o rosto dos seus inúmeros fregueses.

_ Oi, meu amor, como vai você? E o pai e a mãe vão bem? Olha, tome, leve estas flores pra eles. Elas estão fresquinhas.

E sem aceitar o pagamento, ao abrir o sinal, gritava:

_ Tchau!!! Amo vocês!!! Beijo!!!

A cena se repetia em seus diversos matizes nos momentos em que eu cruzava essas avenidas na volta do trabalho. Às vezes eu ou os demais fregueses comprávamos um buquê, outras ela o colocava em cima do teto do carro e ficava a conversar até o farol abrir, quando o pegava de volta e corria à calçada, aguardando o próximo sinal vermelho.

Era uma jovem senhora, talhada pela vida dura, mas que não perdia o bom humor e a coragem para sustentar um filho, na época, universitário, com a venda de flores. Vilma, o seu nome.

Naquela avenida onde tantos compromissos ocasionavam o vaivém frenético e o isolamento das pessoas no interior de seus veículos, Vilma era a típica brasileira a espalhar a ginga faceira e uma sadia afetividade.

Nos dias chuvosos, ela não aparecia e já sabíamos que não estaria lá. Mas bastava firmar o tempo e a expectativa por revê-la se fazia presente.

Era uma cena corriqueira encontrá-la ao lado de algum carro com o vidro aberto e travando conversas amenas com seus “amores”. Era cativante.

De um dia para o outro, não a vimos mais. Que pena! O que teria acontecido?

Passaram-se meses e até mesmo anos. Mudou o rumo da vida, mudaram os trajetos que passamos a fazer, mas Vilma, vez ou outra, surgia nas conversas familiares. Até que um dia, na volta de um compromisso no bairro de Moema, debaixo de muita chuva... surpresa... lá estava ela no mesmo cruzamento.

_ Olá!!! Vocês aqui!!! Quanto tempo!!! Que saudades!!!

A vivacidade era a mesma, os traços dos dias difíceis eram visíveis, mas a tenacidade também.

_ Pensamos em você nesse tempo, como está?

¬ Tudo bom, meus amores, o filho vai bem, a saúde boa e a época é de diversificar. Continuo vendendo flores nos dias menos quentes e, agora, nos chuvosos, vendo guarda-chuvas.

_ Ih! Abriu o sinal!

_ Feliz em ver vocês, meus queridos, vão com Deus, amo vocês!!!!

29/03/2011

Ligia Pezzuto
Enviado por Ligia Pezzuto em 16/11/2011
Código do texto: T3339786
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