Insônia

O momento de insônia é uma grande oportunidade para dialogar. Não, você não vai acordar ninguém para bater um papo em plena madrugada de domingo para segunda justamente quando a vida recomeça - a contra gosto da maioria dos mortais. O que estou dizendo é que quando passamos por esta situação começa-se uma busca frenética pelo sono perdido e o que acabamos encontrando não são carneirinhos pulando cercas – no mais puro sentido da palavra, mas sim palavras perdidas que vão saltando na memória.

Acredito que nosso subconsciente nos acorda de propósito, para lembrar-nos que os dias se passaram e nós não paramos para conversar com nós mesmos. É tanta correria que em muitas das vezes as palavras saem de uma forma mecânica e sem sentido. Esquecemos de falar amorosamente com nossos filhos, que mais uma vez saíram atrasados para a escola, e do contrário, equivocadamente, mandamos beijo para um desconhecido qualquer numa ligação telefônica – que vergonha!

Os pensamentos começam com o típico rol de compras, o que fazer para o almoço, levar a roupa na lavanderia, comprar papel para a impressora do escritório e, de repente, o monólogo vira um diálogo. Mas quem é esta se metendo em seus pensamentos? “Oi muito prazer: eu sou você!” Já de cara não gostei, muito pra frente. Você quer organizar o dia em sua mente, mas a outra parte de você quer pensar no filme que está em cartaz no cinema, em como está precisando de mais uma roupa nova, na hidratação do cabelo e em como perder um milímetro de barriga a deixaria mais feliz.

A briga continua por um certo tempo, até que você e você mesma se entendem. É claro que sempre vai existir aquela vontade inconsciente de que um pensamento predomine o outro, e de certo que algum vai conseguir se sobressair, mas será um momento em que ambas saberão apreciar e aproveitar. São momentos engraçados. É a luta por um pensamento, unzinho só, por completo. Quando se começa concluir um, sua mente vagueia e te leva para outro caminho. Você tenta voltar, mas não há mais como. Não quero pensamentos fabricados, que sejam livres para passearem pelo meu íntimo. Será que nessa fase o sono está a caminho ou atingimos o nosso mais alto ponto de lucidez? Nestas horas vagamos por cômodos quase que inexplorados, que ficam escondidos durante o dia, mas que servem para limpar a alma, refazer caminhos, liberar sonhos trancados no calabouço da sua infância, brincar com o real, espalhar o perfume do passado e te colocar para dormir.

Lara Spalla