O palhaço

É de se esperar que alguém em perfeito estado de lucidez, desde que não seja um aparvalhado, queira o bem das pessoas que ama. Todavia, em minha cômica condição, meu querer bem se torna um “mal querer” intrometido, daí meu desejo inaceitável de afastar-me. Desejo esse que não realizo graças ao desejo, maior ainda de estar perto dela, o que chega a ser minha burrice!

Essa noite acho que, por fim e a força, ela me fez entender o que me reserva o futuro. Compreendi tudo aquilo que ela não espera de mim e todos os planos que ela não imaginou ao meu lado, e percebi que não preciso dissimular sorrisos pra que ela também entenda que os seus sorrisos futuros não serão todos como ela espera que sejam. Vai lhe faltar o palhaço aqui!

E por mais que ainda haja muito pra ser dito, reservo-me desde já ao direito de ficar em silêncio. Que meu silêncio agora fale por mim do que gritou meu peito e ela não soube escutar! Que agora que ela enfim tem o que desejava: sua vida retilínea e de mim ausente, possa realmente sentir unida ao rapaz o sossego que buscava quando me falou do “estar juntos” (meramente conveniente), mesmo sem sentir por ele o que sentia por mim! E que se esqueça das realizações que vivenciou ao meu lado nos momentos em que me confessava amor.

Não entenda isso como ciúme! São apenas os votos de felicidade desse palhaço depois de uma noite de espetáculo mortiço.