Pra onde foi a mulher de César

Temos assistido com indignação ao patético e infindável espetáculo da corrupção, (ou seria “malhação”, a novelinha global que todo ano troca o elenco e se arrasta ad infinitum), enfim, o símile é perfeito. Entra Ministro e sai Ministro, e a coisa não muda.

No primeiro plano, a imprensa é fascista, “Eu quero ver até onde vai esse denuncismo.” vociferou o ainda confiante ministro Lupi. Aliás, deve haver uma razão para os “companheiros” sonharem tanto tolher a liberdade de imprensa.

Passada a fase do sarcasmo, Sansão entrou em cena, ou, o He-man, “eu tenho a fooorça”. “Eu sou pesado, só a bala pra me tirar daqui.” Recado direto ao Planalto, lembrando os poucos votos que seu partido tem no congresso, sua moeda com a qual “comprou” o Ministério, sob o eufemismo de “pacto de governabilidade”, algo obsceno. Em suma, tratem de me blindar se querem continuar com nosso apoio.

Depois, foi a vez de Caim, o indiferente, alienado; “sou lá guardador de meu irmão”, disse aquele, quando Deus perguntou pelo finado Abel; a seguir, o canastrão, o péssimo ator; quando tinha que se referir ao empresário Adair, fingiu não saber o nome e teve que “consultar” uma folha para saber a quem se referir, deprimente.

Mas, vindo à tona uma foto dele embarcando num avião do homem que desconhecia e com o qual jamais viajara, sendo que o Sr. Adair aparece na mesma foto, foi ao congresso dar explicações. Nenhum compromisso com a verdade, nem um nexo com o verossímil, restou, apelar à humildade; “eu sou humano, esqueço as coisas também.” Será que devemos entender com isso que ele, de fato, é humano, ou que está dizendo que somos todos uns asnos?

Quantos estágios precisa passar alguém que se recusa a ser o que deveria, homem! Uma autoridade se desautoriza se ficar nua na praça.

Duas siglas que andavam relativamente bem, malgrado essa sujeira toda, PCdoB e PDT, são os novos protagonistas da malhação do Erário. Primeiro o Orlando Silva, dos Esportes, agora, o senhor Carlos Lupi, do trabalho. Brizola deve estar revirando no túmulo, pois, passou ao longo de sua carreira pública, livre de tais máculas.

Urge rever o papel das ditas ONGs, pois, sem querer generalizar, as que estão em relevo, não passam de dutos de corrupção, por onde, políticos safados roubam descaradamente a nação.

Devaneio sobre a sonhada reforma política, e meus dois neurônios saem no tapa. Tico, esbraveja: - Você acha que as raposas vão criar regras para vetar acesso ao galinheiro? – Pois é, mas, algo precisa ser feito urgente, geme o confuso Teco.

Há algo errado com nossa indignação, mas, hora dessas ela acerta o passo, e uma Tsunami cívica arrasa o Eldorado desses canalhas. Enquanto povos meso-orientais dão a vida em busca de um pouco de liberdade, cá, um corja rouba nossas vidas, pelo excesso, a libertinagem...

Resta-nos uma escolha trilátera; ou seguimos anestesiados pelo carnaval e o futebol, fingindo que a vida é uma festa; ou, dado o cenário, fazemos silenciar nossa indignação, pela “vergonha de ser honestos” como disse Ruy Barbosa; ou, reagimos de vez, fazendo pelos devidos meios, a reforma necessária, de modo que pessoas idôneas, técnicos concursados cuidem das finanças, e políticos, apenas de leis, e sejam banidos todos, o que não sirvam para “mulher de César”.

Aquela, diziam, não bastava ser honesta; tinha que parecer honesta.

Leonel Santos
Enviado por Leonel Santos em 18/11/2011
Reeditado em 18/11/2011
Código do texto: T3342677