CARIOCA
(com permissão do mon ami et poète Gilbertô)
Tenho 82 anos, sou carioca da gema, eleitor(quase sempre frustrado), casado, metido a escritor, arremedo de poeta, vascaino por carma, mas tenho impregnado em mim o gene que diferencia o meu conterrâneo de todos os demais mortais, sem nenhuma conotação de vaidade incontida.
Vaidade, mesmo, temos, apenas, pelas praias! Essas, sim, são nosso fraco; são manias, são compulsão tão grande que ninguém pergunta se vai fazer bom tempo e, sim, se vai dar praia!
E enchemos o peito quando falamos em Copacabana, Ipanema, Leblon, Barra da Tijuca e Recreio dos Bandeirantes.
Para as demais maravilhas que nos cercam, como Corcovado, Pão de Açucar, Jardim Botânico,a Floresta da Tijuca , os Arcos da Lapa , a Pedra da Gávea , a Lagoa Rodrigo de Freitas , a Lagoa de Marapendi, o que o carioca passa é de fingida indiferença.
Conheço muitos conterrâneos que jamais puseram os pés em nenhum desses locais e, quando perguntados porque, simplesmente declaram : "amigo, eu sei que estão aí e aí vão permanecer até que o mundo acabe...e eu não tenho nenhuma pressa; por enquanto me basta saber disso e poder vê-los, mesmo ao longe, todos os dias".
Mas também é uma gente que se emociona ao ver um gato eletrocutado na rede elétrica, que providencia, imediatamente, um lençol para cobrir um acidentado na rua e ainda acende velas ao seu redor; que informa o rumo que um turista deve tomar, mas, não contente com isso, acompanha-o ao seu destino, esquecendo o seu próprio; que corre aos hospitais quando seu próprio sangue é exigido para salvar outras vidas; que põe seu último níquel numa conta para ajudar crianças hemofílicas.
Esse é o meu povo!
Que reverencia, tanto a umbanda, como o catolicismo, que, até, os funde numa crença só; que identifica seus santos africanos de origem, seus orixás, seu candomblé e consegue aceitação plena de ambas as partes; que, com miscigenação divina, criou a mulata, símbolo vivo de extraordinária força genética, de poética beleza, de graça, de sedução; que cultua o samba, a malemolência, o requebro, o bom jeitinho, a caipirinha sempre bem-vinda, o violão seresteiro, a velha Lapa boêmia, o baixo meretrício do Mangue, a cerveja preta da Praça Quinze; o trem da Central, a barca para Paquetá, o espetáculo das feiras livres, o Sambódromo, o Maracanã.
Onde se encontraria inspiração tão grande de um sambista, como Nelson Cavaquinho, para cantar “tira o teu sorriso do caminho, que eu quero passar com a minha dor”. Onde?
Povo com simpatia natural e altamente contagiosa, que conseguiu até que um Papa declarasse que "se Deus é brasileiro, o Papa é cariôca"; que tem a irreverência como pedra lapidar, que até nas desgraças encontra motivos para extravasar seu humor; que, como criança,brinca com tudo, que, como adulto, não quer chorar.
Esse é o meu povo!
Hoje, no Rio, talvez minoria, porque o maior desejo do brasileiro, acredito, seja o de conseguir a carteirinha de carioca honorário, mesmo assim é inconfundível, porque traz estigmatizada a marca de nascença...é único, mesmo sem se aperceber disso.
Desculpe, minha gente, amo a todos os que no meu país nasceram, mas eu sou o carioca, cuja alma está celestialmente representada na imagem que ilustra esta crônica; braços sempre abertos, num universal abraço!
(com permissão do mon ami et poète Gilbertô)
Tenho 82 anos, sou carioca da gema, eleitor(quase sempre frustrado), casado, metido a escritor, arremedo de poeta, vascaino por carma, mas tenho impregnado em mim o gene que diferencia o meu conterrâneo de todos os demais mortais, sem nenhuma conotação de vaidade incontida.
Vaidade, mesmo, temos, apenas, pelas praias! Essas, sim, são nosso fraco; são manias, são compulsão tão grande que ninguém pergunta se vai fazer bom tempo e, sim, se vai dar praia!
E enchemos o peito quando falamos em Copacabana, Ipanema, Leblon, Barra da Tijuca e Recreio dos Bandeirantes.
Para as demais maravilhas que nos cercam, como Corcovado, Pão de Açucar, Jardim Botânico,a Floresta da Tijuca , os Arcos da Lapa , a Pedra da Gávea , a Lagoa Rodrigo de Freitas , a Lagoa de Marapendi, o que o carioca passa é de fingida indiferença.
Conheço muitos conterrâneos que jamais puseram os pés em nenhum desses locais e, quando perguntados porque, simplesmente declaram : "amigo, eu sei que estão aí e aí vão permanecer até que o mundo acabe...e eu não tenho nenhuma pressa; por enquanto me basta saber disso e poder vê-los, mesmo ao longe, todos os dias".
Mas também é uma gente que se emociona ao ver um gato eletrocutado na rede elétrica, que providencia, imediatamente, um lençol para cobrir um acidentado na rua e ainda acende velas ao seu redor; que informa o rumo que um turista deve tomar, mas, não contente com isso, acompanha-o ao seu destino, esquecendo o seu próprio; que corre aos hospitais quando seu próprio sangue é exigido para salvar outras vidas; que põe seu último níquel numa conta para ajudar crianças hemofílicas.
Esse é o meu povo!
Que reverencia, tanto a umbanda, como o catolicismo, que, até, os funde numa crença só; que identifica seus santos africanos de origem, seus orixás, seu candomblé e consegue aceitação plena de ambas as partes; que, com miscigenação divina, criou a mulata, símbolo vivo de extraordinária força genética, de poética beleza, de graça, de sedução; que cultua o samba, a malemolência, o requebro, o bom jeitinho, a caipirinha sempre bem-vinda, o violão seresteiro, a velha Lapa boêmia, o baixo meretrício do Mangue, a cerveja preta da Praça Quinze; o trem da Central, a barca para Paquetá, o espetáculo das feiras livres, o Sambódromo, o Maracanã.
Onde se encontraria inspiração tão grande de um sambista, como Nelson Cavaquinho, para cantar “tira o teu sorriso do caminho, que eu quero passar com a minha dor”. Onde?
Povo com simpatia natural e altamente contagiosa, que conseguiu até que um Papa declarasse que "se Deus é brasileiro, o Papa é cariôca"; que tem a irreverência como pedra lapidar, que até nas desgraças encontra motivos para extravasar seu humor; que, como criança,brinca com tudo, que, como adulto, não quer chorar.
Esse é o meu povo!
Hoje, no Rio, talvez minoria, porque o maior desejo do brasileiro, acredito, seja o de conseguir a carteirinha de carioca honorário, mesmo assim é inconfundível, porque traz estigmatizada a marca de nascença...é único, mesmo sem se aperceber disso.
Desculpe, minha gente, amo a todos os que no meu país nasceram, mas eu sou o carioca, cuja alma está celestialmente representada na imagem que ilustra esta crônica; braços sempre abertos, num universal abraço!