"Deus quer, o Homem sonha, a obra nasce." ( O Infante - Fernando Pessoa)

Em um de meus trabalhos escolares quando eu era apenas uma menina comedora de farinha e angu, eu teria que fazer um cartaz referente ao dia 07 de Setembro. Metida a ser diferente e já uma apreciadora de Pessoinha, peguei esse verso, que para mim é maravilhoso, "Deus quer, o Homem sonha, a obra nasce." (O Infante - Fernando Pessoa) em destaque bem grande na parte superior da cartolina. Depois como sou boa desenhista, rabisquei uma linda paisagem com o mapa do Brasil nascendo entre montes e seus raios eram o escrito SETE DE SETEMBRO em letras ornamentadas... O verde dos montes foi esmaecendo até ficar clarinho no final da cartolina e nesse espaço, escrevi com letra manuscrita uma síntese da história da independência...

Confesso que tive orgulho da pequena obra de arte que ficou esse cartaz, mas foi na feitura dele que um sentimento maior que orgulho e mais importante em mim aflorou, um sentimento patriótico que até então eu não sabia existir dentro de mim, um certo ufanismo antropofágico, uma revolução de sensações patrióticas. Então resolvi que iria, como “Todos cantam sua Terra (...)” também iria cantar a minha, não nas cordas da lira, mas em meus ingênuos versos de iniciante apaixonada. E eu quis, como Casemiro de Abreu, também cantar a minha e fazê-la rainha...

Minha Terra

Todos cantam sua terra,

Também vou cantar a minha,

Nas débeis cordas da Lira

Hei de fazê-la rainha;

— Hei de dar-lhe a realeza

Nesse trono de beleza

Em que a mão da natureza

Esmerou-se em quanto tinha.

Correi pr’as bandas do sul

Debaixo dum céu de anil

Encontrareis o gigante

Santa Cruz, hoje Brasil;

— É uma terra de amores

Alcatifada de flores

Onde a brisa fala amores

Nas belas tardes de Abril.

Tem tantas belezas, tantas,

A minha terra natal,

Que nem as sonha um poeta

E nem as canta um mortal!

— É uma terra encantada

— Mimoso jardim de fada —

— Do mundo todo invejada,

Que o mundo não tem igual.

[...]

Assim, imitando Pessoa, Casemiro e Bilac, que também amo apaixonadamente, fiz algo que não era, mas eu chamei de soneto, exaltando minha terra,... Ficou lindo meu poemeto, meu textículo inocente e com ele inaugurei meu caderninho de poemas, esse caderninho que me acompanhou boa parte do meu tempo de ginásio (da 5ª à 8ª séries)... Não sou boa em memorização, mas digo, o único poema que sei de memória é esse de Olavo Bilac, que usei como uma das minhas inspirações

A PÁTRIA

Ama, com fé e orgulho, a terra em que nasceste!

Criança! não verás nenhum país como este!

Olha que céu! que mar! que rios! que floresta!

A Natureza, aqui, perpetuamente em festa,

É um seio de mãe a transbordar carinhos.

Vê que vida há no chão! vê que vida há nos ninhos,

Que se balançam no ar, entre os ramos inquietos!

Vê que luz, que calor, que multidão de insetos!

Vê que grande extensão de matas, onde impera

Fecunda e luminosa, a eterna primavera!

Boa terra! jamais negou a quem trabalha

O pão que mata a fome, o teto que agasalha…

Quem com seu suor a fecunda e umedece,

Vê pago o sue esforço, e é feliz, e enriquece!

Criança! não verás país nenhum como este:

Imita na grandeza a terra em que nasceste!

Olavo Bilac

Mas um dia mamãe fazendo faxina, jogou coisas velhas fora, lá se foi o cartaz do meu orgulho e também meu primeiro caderninho poético...Minha memória, anos depois, resgatou do esquecimento alguns textos que eu escrevi, dentre eles “ALQUIMIA” e algum texto aqui e ali contendo alguma figura mitológica, mas meu poeminha patriótico, nunca mais voltou pra mim... Mas, se Deus quer... o homem sonha... e a obra nasce...

Deus quis que de mim nascesse a poesia, eu a sonhei e a desejei desde antes de saber desejar...e a obra nasceu em mim... Essa criança indômita, que me acorda nas madrugadas exigindo minha atenção, ou às vezes me faz perder o sono, me enfrenta, me arranca emoções, me traz sensações deliciosas, ela sabe me prender... Ah! Essa criança espero, ainda irá crescer... eu crescer com ela também, sendo como Olavo Bilac, como Fernando Pessoa, como Pablo Neruda... talvez. Há tantos poetas que eu amo, tantos nomes magistrais aos quais eu queria me igualar quando crescer e ter o talento tal qual... Por enquanto, não sou poetisa (ou poeta) estou poesia...

Nina Costa
Enviado por Nina Costa em 21/11/2011
Reeditado em 21/11/2011
Código do texto: T3347667
Classificação de conteúdo: seguro