Centenário de Mário Lago
            Mário Lago, músico, poeta, compositor, ator e ativista político se vivo completaria hoje 100 anos.
            Não sou conhecedor de arte. Sou apenas apreciador. Quem mergulha na água não precisa saber qual seja sua composição química para se deixar molhar.
            O que dá valor a uma homenagem é o mérito de quem a recebe. A homenagem que está sendo prestada pelo Rio de Janeiro e pelo Brasil a Mário Lago, quando do seu centenário, é uma manifestação sobretudo popular e espontânea.
            A carreira artística e política de Mário Lago foi marcada pela dignidade. Aliando-se a isso a inteligência, sensibilidade, competência e firmeza. Foi um dos mais notáveis letristas de música popular brasileira. Em “Ai, que saudades da Amélia” (c/Ataulfo Alves), a descrição daquela mulher ideal, ficou indelével no inconsciente coletivo e “Amélia” virou sinônimo de mulher submissa, dedicada ao seu homem e resignada aos trabalhos domésticos. E o que dizer de “Aurora” na eterna interpretação de Carmen Miranda? “Atire a primeira pedra”, também em parceria com Ataulfo Alves (uma visitinha ao Museu da Imagem e do Som é um banho de cultura que ninguém pode se dispensar). Na teledramaturgia lembro aqui o seu Compadre Quelemen, de Guimarães Rosa. Mário Lago foi a imagem perfeita do artista que tem algo pessoal a dizer e o diz dentro da sua individualidade. Que é absolutamente única, inédita
            Mário Lago, ativista político (foi contemporâneo na Faculdade de Direito do Rio de Janeiro, de Carlos Lacerda e Jorge Amado), foi combatido e perseguido. Foi no seu tempo um remador contra a correnteza feroz e não um navegante em águas tranqüilas. Em 2002, ano de sua morte, o então presidente da Câmara Federal, Aécio Neves, foi pessoalmente à sua residência lhe entregar a Ordem do Mérito Parlamentar.
            Mário Lago, enriqueceu o patrimônio de beleza que a alma brasileira produziu e produz. Cumpriu com integridade a trajetória da vida.
22.11.2011