ARMARINHO NATAL


Um lugar que ficou na minha lembrança. Nunca o esqueci. Antigamente existiam os “armarinhos”, um lugar onde as mulheres iam comprar “aviamentos” para suas roupas, desde as costureiras profissionais até as amadoras. Era muito difícil não existir uma máquina de costura em uma casa. Geralmente as mulheres eram prendadas e se não costurassem, pelo menos sabiam consertar as roupas dos filhos e marido. Reposição de botões, bainhas, remendos, quando as roupa rasgavam em certos lugares, elas sabiam “cerzir” para que as roupas durassem um pouco mais. Hoje já não existe mais ao famosos “armarinhos”, existe sim, certos pontos comerciais que vendem de tudo incluindo algumas poucas coisas para costura de roupa. Falo assim porque hoje, é muito mais fácil e mais barato comprar uma roupa pronta numa loja qualquer de departamentos ou nas boutiques. Hoje em dia é muito difícil encontrar-se uma loja somente de tecidos. Lembro de toda um ritual que era feito. Desde a escolha do tecido, a escolha do modelo nas revistas próprias de moda chamadas de figurinos, depois de tudo isso escolhido chegava-se aos aviamentos; zíper ( antigamente chamava-se “ éclair”, botões, linha, enfeites para dar o toque final no modelo...etc...
E para compra desses “aviamentos” o ponto de referência no meu bairro era o “Armarinho Natal”, eu era ainda uma criança, mas gostava quando mainha dizia que ia ao armarinho, sempre fazia questão de ir lá com ela. Ficava a uns 700 metros da minha casa, situado no largo principal. Muito bem localizado, era grande, arejado e o mais importante, era lindo!!!
Quando lá entrávamos era como se tivéssemos entrando num conto de fadas, como eu gostava de ir lá!!! Um balcão de madeira grande tomava as três paredes das laterais e do fundo, preso nas paredes, caixas com todos os tipos e cores de botões, linhas, fitas, sianinhas, ligas, enxoval de bebês, exposição de plásticos para toalhas de mesa... eu me perdia olhando aquilo tudo. Enquanto mainha procurava o que ia comprar eu olhava cada cantinho, cada peça que tinha ali dentro. Os donos eram um casal, ela uma mulher morena, baixinha, de rosto bondoso, sempre muito atenciosa, cabelos pretos, parecia um tanto quanto franzina. Ele, ao contrário, era alto, de bom porte, nariz aquilino, também muito educado. Cresci vendo aquele casal trabalhando ali no armarinho, vieram os filhos e eles continuaram. Já adolescente, um certo dia soube que eles haviam fechado o armarinho. Já não era a mesma coisa, as pessoas já não cobriam botões, não costuravam as suas roupas...e o armarinho aos poucos foi ficando para trás. No lugar, hoje, existe uma loja de eletrodomésticos, não sei se alugaram ou venderam. Eles continuaram morando na parte de cima onde construíram uma bela casa. Nunca mais os tinha visto. Coincidentemente, indo ao “Largo”, enquanto comprava um coco e esperava para ralar, ela também estava esperando e conversava com uma outra senhora sobre o armarinho que outrora fora dela e que funcionava no lugar onde hoje é a loja. Eu, pedi desculpas e entrei na conversa falando que lembrava dela, do marido dela e do armarinho que eles tiveram. Ela deu um sorriso de satisfação, naquele momento soube que marcara aquele lugar, que não fora totalmente esquecida. Falou que ainda morava na mesma casa, o marido falecera e ela vivia com um filho. Falei para ela que iria escrever sobre o seu “armarinho”pois marcara muito a minha vida, e hoje, faço isso com o coração cheio de saudade.