O Sono de Júlia.

Naquela tarde Júlia chegara acompanhada, como sempre, do seu pai. Olhei para ela e recebí um lindo sorriso!

Júlia estava linda, como sempre também! Vestia um vestidinho bem rodadinho, estampado de listrinhas e florzinhas cor de rosa, se me lembro bem... À tira-colo, trazia uma pequena bolsa, também cor de rosa. Segurava embaixo do braço um livro de história e um caderninho. carregava carinhosamente, sua linda bonequinha de pano, tipo Emília, bem fofinha, com os cabelos feitos de lã amarela. E assim, Júlia chegou preparada, munida de “coisas” para se distrair, enquanto o tempo fosse passando...

Presumo que a Júlia tenha uns seis ou sete anos de idade, não sei bem ao certo, mas ela já é bastante conhecida nas reuniões culturais e festividades acadêmicas, pois sempre acompanha o seu pai, escritor e poeta, Demétrio Sena, que diz, não ter com quem deixá-la e além disso, adora sair com ela...

Olhei para trás e vi Júlia sentada na cadeira do auditório da ACLAM, onde acontecia a reunião. Quando o seu pai foi chamado para ocupar um lugar à mesa, Júlia o acompanhou e se postou ao seu lado. Passado um tempinho, me toquei que ela estava em pé, e rapidamente, arranjei-lhe uma cadeira. Ela sentou-se como uma mocinha! Ajeitou o vestidinho, cruzou as pernas e organizou os seus pertences... A Júlia passou então, a fazer parte da mesa com as pessoas ilustres e não passou despercebida, naturalmente!

A reunião se desenvolvia. E enquanto as pessoas falavam, discutiam os assuntos, ora concordando, ora discordando, Júlia alheia ao que acontecia ao seu redor, abriu a sua bolsinha e pegou uma caneta e começou a escrever. Depois, guardou a caneta e começou a desenhar... E eu pensei: O que será a menina Júlia quando crescer? Será uma professora?... Uma médica?... Uma psicóloga? Ou... Uma escritora, como o pai?

Enquanto eu ainda pensava, Júlia abriu sua bolsinha cor de rosa, guardou a caneta, o lápis de desenho, fechou novamente a bolsinha, acomodou num braço sua filhinha, também de nome Júlia, ora no colo, se mexendo de um lado para o outro. Abriu a Revista de histórias em quadrinhos e começou a folheá-la, lendo-a talvez. E assim, Júlia estava naquela tarde usando o seu tempo de criança, da melhor forma possível. Enquanto os adultos falavam e alinhavam suas idéias, ela se mexia na cadeira; cruzava e descruzava as pequenas perninhas... Os olhinhos pareciam pesados...Ela parecia estar muito cansada!

Eu prestava atenção aos assuntos da reunião, e esqueci um pouco a menina. Quando olhei para o lado, observei que a pequena Júlia, vencida pelo cansaço adormecera, profundamente, sobre o braço da cadeira, onde colocara o corpo fofinho da sua boneca como um travesseiro e sobre ele apoiara a sua cabecinha...

Ah... Senti uma ternura tão grande vendo o seu descansar naquele inesperado sono! Naturalmente, devia estar sonhando, um dos seus sonhos infantis: Talvez, com uma fada madrinha a guiá-la pelas mãos, num passeio de carrossel com cavalos encantados, sobre flocos de nuvens de sorvetes..., ao som da canção cantada por Xuxa “Doce, doce, a vida é um doce de vida e mel...” , e com as mais belas palavras de poesias!

Fiquei assim embevecida, encantada, vendo-a dormir o seu sono... Inadiável! Fiquei com vontade de pegá-la no colo!

Pouco tempo depois, a reunião terminou e Júlia foi despertada do sono pelo seu pai Demétrio, que lhe disse:

- Acorda Júlia. Agora é a melhor hora!... É hora do lanche!...

Júlia acordou rapidinho! Bocejou, juntou os seus pertences e abraçadinha com a sua boneca, levantou-se da cadeira bem depressa e de mão dada com o seu amoroso pai, olhou para mim e deu-me mais uma vez seu lindo sorriso!

Piabetá, 25 de novembro de 2011.

Iraí Verdan

Iraí Verdan
Enviado por Iraí Verdan em 28/11/2011
Reeditado em 01/12/2011
Código do texto: T3361077