Tic-tac... tic-tac... PIIIIIIIIII

Tic-tac. Tic-tac. Tic-tac. Já há alguns meses comprei esse relógio gigante para enfeitar a sala de jantar. Copiei a ideia da minha sogra e... ficou bonito mesmo! Não fosse por esse maldito tic-tac, tic-tac, tic-tac. Nunca para, nunca descansa, nunca muda de som, de ritmo. Sempre a mesma coisa, como uma rotina entediante que move nossos passos por inércia. De tão sempre igual, dispensa até o raciocínio.

Acordar. Tomar café. Checar o Facebook. Assistir um pouco de TV. Tic-tac. Vestir uma roupa. Correr para o ponto de ônibus. Bater o ponto no trabalho. Tic-tac. Tic-tac. Finalmente chegou a hora do almoço. Respira fundo. Recorrer a todos os santos desejando que a sexta-feira chegue logo. Bater o ponto novamente. Trabalhar a outra metade do dia. Tic-tac. É hora de voltar para casa. Acelerar os passos mais uma vez para não perder o coletivo. Ao invés de perturbar os santos, recorrer a todos os deuses pedindo que haja um assento vago. Jantar. TV. Sono.

Viver na precisão de um relógio, como se o único propósito fosse encerrar um ciclo apenas a fim de começá-lo de novo... de novo. A impressão que dá é a de estar sempre seguindo adiante, cada tic-tac indo em direção ao futuro, ao minuto seguinte. Mas não. Essas são máquinas presas a própria limitação de suas rotinas, desgastando-se com o tempo, suas peças se acabando na ferrugem, sem jamais evoluir até que PIIIIIII. PI! PI! PI! PI!

Toca o alarme. Não que isso impeça o rumo normal dos acontecimentos típicos. O relógio permanece em seu ritmo sagrado. Tic-tac. Você ainda levanta da cama, toma o café e usa a Internet. Mas aquele som estridente – como um momento de epifania, um sinal do destino – talvez te mostre que não basta estar com os olhos abertos e se movimentando para se estar efetivamente acordado.

PI-PI-PI!!!!!!!!! É um sacudir nos ombros. Viva!! Se até um relógio pode transcender seu tic-tac monótono para fazer algo com mais emoção, o que te impede, então, de enxergar o mundo para além de suas obrigações?

Não se contente em somente chegar em casa. Abra a porta, olhe em volta e aprecie suas conquistas. Esqueça o quanto é fácil falar com os amigos no Facebook e vá encontrá-los pessoalmente. Em vez de observar outras vidas na TV, ponha uma roupa confortável e caminhe pela vizinhança com o prazer de não ter exatamente local e hora para chegar. Sequestre seu cachorro, seu irmão, seu amor e vá a algum lugar diferente. E, de tempos em tempos, ouse! Deleite-se no frango frito, na sua sobremesa preferida. É gostoso mesmo! Cante, dance, pule de paraquedas, extrapole!

Presenteie-se com mais momentos agradáveis, alegrias que vêm de graça e algumas que você pode comprar com cartão. Acorde! Seja mais do que apenas tic-tac.... tic-tac.... tic-tac...