UMA PISCADELA
Nos velhos tempos de DNER, na qualidade de Diretor de Administração, viajei muito por este Brasil afora, levando novas rotinas para a área administrativa do órgão, já engatinhando nos meandros da Informática, com implantação iniciada pelo SERPRO , que, hoje, centraliza todo o sistema salarial federal.
Dessas andanças, fui recolhendo muitas estórias, conheci uma enorme quantidade de pessoas, culturas diversas, crendices, literatura e folclore e, após a aposentadoria, reuni o que a memória permitiu, e encadernei um opúsculo intitulado "DNER - história e estórias", cuja tiragem (6 exemplares) guardo na minha gaveta.
A que vou narrar, entretanto, não faz parte desse livro, mas, como me lembrei dela agora, vai ela mesma!
Íamos eu e um assessor com experiência da área na qual iríamos intervir e estávamos em Aracaju, a bela capital de Sergipe, com praias lindas, muito sol, ótima comida, e um povo pra lá de hospitaleiro.
Tinha por norma, trabalhar das 8 até 14 horas, sem intervalo. Mas, depois dessa hora, ninguém me pegava mais, porque eu sumia na vida; era uma praia, logo de saída. depois o almoço de envergonhar um abade! Exclusivamente frutos do mar, caipirinha...e muita cerveja pra apagar o fogo...todo o santo dia!
Depois, a volta, arrastada, para o abençoado hotel, para uma soneca até o princípio da noite, porque ninguém é de ferro.
Como dia seguinte era trabalho de novo, e cedo, o cuidado com o físico era não só importante, como imperativo. A mente deveria estar clara, raciocínio rápido, respostas prontas e seguras e, como sempre havia uma esticadinha à noite, a gente só conseguia isso à força de muito Hepatocler e chá de boldo bem forte, quase uma tintura.
Apanhados sem "a salvação da lavoura", lá fomos nós, eu e o meu assessor, procurar uma farmácia para comprar as drogas e encontramos uma, numa ruazinha, atrás do hotel, numa área residencial bem pequena, Uma única lâmpada iluminava a entrada da casa, que incorporava farmácia e residência.
Nesse tempo, bem mais jovem e pesado, mas com os cabelos já inteiramente brancos, guardava uma considerável semelhança com o ator Walmor Chagas, então em muita evidência nas telenovelas, fato que até me rendeu umas belas conquistas, modéstia à parte..
Chegamos à farmácia. Apenas uma senhora atendia e estava apoiada sobre os cotovelos no balcão, meio sonolenta. Quando bateu os olhos em mim, quase deu um salto e esbugalhou os olhos. Fiz o pedido (ela de olho grudado em mim) e a mulherzinha saiu pela porta que conduzia ao interior da casa e lá ficou um tempão. De vez em quando, uma carinha de criança espiava e sumia, até que a senhora voltou, encontrou o que lhe pedira e me disse:
- O senhor é o Walmor, não é?
Não adiantou a minha negativa, reforçada pela do meu assessor porque a mulher não arredava pé e continuava a arenga "é, sim, você é que não quer dizer", "esse pessoal da TV é assim mesmo", "me mostra sua identidade".
De repente percebi que algumas pessoas das residências próximas já começavam a se concentrar nas imediações e, até por razões de segurança, resolvi cair fora. Mas, antes, pra consolar a mulher, lhe disse:
- Não vou fazer nada do que me pediu, mas prometo uma coisa: fique de olho na novela e quando eu der uma piscadela, pode saber que é para você. E sumi na estrada.
Não sou chegado à novelas, não sei o que aconteceu, mas piscadela é um negócio mais comum que nota de um real e pode ter acontecido.
Se realmente ocorreu a tal da piscadela, tenho certeza que um novelesco desmaio aconteceu lá naquela ruazinha de terra perdida em Sergipe e que o Ibope da dona da farmácia bateu recordes!
Nos velhos tempos de DNER, na qualidade de Diretor de Administração, viajei muito por este Brasil afora, levando novas rotinas para a área administrativa do órgão, já engatinhando nos meandros da Informática, com implantação iniciada pelo SERPRO , que, hoje, centraliza todo o sistema salarial federal.
Dessas andanças, fui recolhendo muitas estórias, conheci uma enorme quantidade de pessoas, culturas diversas, crendices, literatura e folclore e, após a aposentadoria, reuni o que a memória permitiu, e encadernei um opúsculo intitulado "DNER - história e estórias", cuja tiragem (6 exemplares) guardo na minha gaveta.
A que vou narrar, entretanto, não faz parte desse livro, mas, como me lembrei dela agora, vai ela mesma!
Íamos eu e um assessor com experiência da área na qual iríamos intervir e estávamos em Aracaju, a bela capital de Sergipe, com praias lindas, muito sol, ótima comida, e um povo pra lá de hospitaleiro.
Tinha por norma, trabalhar das 8 até 14 horas, sem intervalo. Mas, depois dessa hora, ninguém me pegava mais, porque eu sumia na vida; era uma praia, logo de saída. depois o almoço de envergonhar um abade! Exclusivamente frutos do mar, caipirinha...e muita cerveja pra apagar o fogo...todo o santo dia!
Depois, a volta, arrastada, para o abençoado hotel, para uma soneca até o princípio da noite, porque ninguém é de ferro.
Como dia seguinte era trabalho de novo, e cedo, o cuidado com o físico era não só importante, como imperativo. A mente deveria estar clara, raciocínio rápido, respostas prontas e seguras e, como sempre havia uma esticadinha à noite, a gente só conseguia isso à força de muito Hepatocler e chá de boldo bem forte, quase uma tintura.
Apanhados sem "a salvação da lavoura", lá fomos nós, eu e o meu assessor, procurar uma farmácia para comprar as drogas e encontramos uma, numa ruazinha, atrás do hotel, numa área residencial bem pequena, Uma única lâmpada iluminava a entrada da casa, que incorporava farmácia e residência.
Nesse tempo, bem mais jovem e pesado, mas com os cabelos já inteiramente brancos, guardava uma considerável semelhança com o ator Walmor Chagas, então em muita evidência nas telenovelas, fato que até me rendeu umas belas conquistas, modéstia à parte..
Chegamos à farmácia. Apenas uma senhora atendia e estava apoiada sobre os cotovelos no balcão, meio sonolenta. Quando bateu os olhos em mim, quase deu um salto e esbugalhou os olhos. Fiz o pedido (ela de olho grudado em mim) e a mulherzinha saiu pela porta que conduzia ao interior da casa e lá ficou um tempão. De vez em quando, uma carinha de criança espiava e sumia, até que a senhora voltou, encontrou o que lhe pedira e me disse:
- O senhor é o Walmor, não é?
Não adiantou a minha negativa, reforçada pela do meu assessor porque a mulher não arredava pé e continuava a arenga "é, sim, você é que não quer dizer", "esse pessoal da TV é assim mesmo", "me mostra sua identidade".
De repente percebi que algumas pessoas das residências próximas já começavam a se concentrar nas imediações e, até por razões de segurança, resolvi cair fora. Mas, antes, pra consolar a mulher, lhe disse:
- Não vou fazer nada do que me pediu, mas prometo uma coisa: fique de olho na novela e quando eu der uma piscadela, pode saber que é para você. E sumi na estrada.
Não sou chegado à novelas, não sei o que aconteceu, mas piscadela é um negócio mais comum que nota de um real e pode ter acontecido.
Se realmente ocorreu a tal da piscadela, tenho certeza que um novelesco desmaio aconteceu lá naquela ruazinha de terra perdida em Sergipe e que o Ibope da dona da farmácia bateu recordes!