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Salve o projeto Rondon

 
Eu sou da época que os universitários estavam sempre ao lado do povo; que os universitários brigavam sempre por um país melhor, mais justo. Também, naquela época, os colégios públicos eram respeitados. A maioria dos colégios particulares era chamado de PP: pagou, passou. A coisa era mais rígida, havia mais respeito. O aluno do colégio público, não podia perder dois anos seguidos, que tinha que sair do colégio. Não podia estudar em colégio público nenhum... Tinha que ir para um PP, passar, e depois voltar para o ensino público, já em outra série. A coisa era séria.
Depois de cursar o primário, que ia até o 5º ano, tinha que fazer a admissão ao ginásio. Era como uma espécie de vestibular. Se perdesse, estava fora, só no ano seguinte. Quem tinha condições ia fazer um curso de admissão. A minha geração foi a última que passou por tudo isso. A geração seguinte já não encontrou mais. E daí o ensino público veio desmontando, desmontando... e chegou aonde está. Então, como o ensino público era que tinha maior credibilidade, todas as “castas” se encontravam ali: todas as cores, todos os credos, todas as condições. Só essa mistura já “quebrava” um pouco as discriminações. Quantos filhos de doutores já dependeram de filhos de sapateiros etc, para explicar algum assunto que eles não entenderam, ou para dar uma pescadinha? Daí um seguia adiante (ia para a faculdade) e o outro, muitas vezes, ficava pelo caminho.

Mas a conversa aqui é entre universitários e o povo. Como eu falei anteriormente, os colégios públicos eram a “mistura das castas”. Então, quem tinha melhores condições financeiras, convivia com outras realidades. Só existiam duas Faculdades: Uma pública e outra particular (não lembro se existia mais alguma). Na pública, quem tinha que trabalhar para se manter, não tinha como estudar: não havia ensino à noite. Na particular, não tinha como pagar... Então ficava no meio do caminho.
Talvez por esse motivo, os universitários de antigamente se preocupassem mais com a situação do povo, por causa do convívio no colégio público. E além desse convívio, ainda tinha o Projeto Rondon, onde os estudantes viam, de perto, outras realidades brasileiras. Isso deve ter “incentivado” a muitos estudantes, depois de formados, enveredarem por estes sertões se preocupando com as pessoas, e não com o dinheiro.

Fiz esse discurso todo só para mostrar que os universitários de hoje, vivem em um mundo “todo particular”. Começa pela moradia, entra pelo colégio e acaba na faculdade. Quando querem curtir, tem os lugares impróprios para descamisados. Que convívio eles têm, com pessoas de outras “castas”? Que outras realidades eles conhecem? Nenhuma. Como um individuo deste, pode se preocupar com o povo? Ele se preocupa é em ganhar mais, porque o mundo em que ele vive, gasta-se muito. Imagine um sujeito deste, tornando-se um político... Vai dar o que preste? Só se ele já nascer com o sentimento de povo em sua natureza.

24.11.2011