A VINGANÇA

A mídia nacional e estrangeira deu amplo destaque a notícia de que Ryan L. Fitzjerald, um tatuador norte-americano, tatuou uma imagem de fezes com moscas nas costas da namorada Rossie Brovent, como vingança, por ela o ter traído com o seu melhor amigo.

Rossie Brovent vai processar Ryan L. Fitzjerald, que poderá pagar uma multa de US$ 100 mil. De acordo com ela, um leão que aparece numa cena do filme “Crônicas de Nárnia” seria o desenho correto.

O namorado traído, usando de esperteza, fez à namorada assinar um documento o autorizando a fazer a tatuagem “a critério do artista”, portanto, não há o que reclamar.

Rossie alega que foi enganada e que ingeriu bebidas alcoólicas para relaxar por incentivo do namorado.

O tatuador alega como defesa que sua honra foi ofendida e que o gesto de tatuar foi até brando, outros homens em seu lugar a teriam matado.

Quando algo perturbador acontece, gerando sofrimento ao indivíduo, a sua imaturidade psicológica se sente ameaçada, por algo muito forte, que mesmo raciocinando conscientemente, não consegue se desvincular das manifestações desconhecidas que traz armazenada em seu inconsciente, a lhe exigir reparação, desforra, e até mesmo a aniquilação do seu opositor.

Popularmente se diz que, não se situa a honra de um homem entre as coxas de uma mulher. Se, como iterativamente, mesmo que se estiver casado não acode ao homem a título de legitima defesa da honra sacrificar a mulher havida de adúltera, por constituir dita honra atributo personalíssimo, portanto, um valor intransferível, que desentende com a fidelidade conjugal.

Com mais veras descabe ao macho ferido, em melindres vigorantes há milênios, eliminar, escarmentado pelo ciúme, mulher frívola e de vida sabidamente á mangalaça, a teor de resguardar suposta honra ofendida.

Durante décadas, o homem que matasse uma adúltera tinha uma saída fácil para se livrar da cadeia. Bastava alegar que estava lavando a honra com sangue - a chamada "legítima defesa da honra", um argumento que, como jabuticaba, só existe no Brasil. A absolvição era garantida. Nos anos 80, julgamentos históricos, como o de Doca Street e muitos outros, derrubaram o argumento e pareceram relegá-lo ao folclore jurídico nacional. Mas ele continua vivo e, surpreendentemente, funcionando.

Contudo ao que parece o caso em voga, embora trilhe o mesmo caminho, mudou apenas o método; não matou, mas, deixou a marca para sempre, uma vez que remoção da tatuagem, devido a sua proporção, a textura da pele e a localização, é impossível.

É importante destacar que o Brasil sofreu uma condenação internacional da Comissão Interamericana de Direitos Humanos da OEA, por negligência e omissão em relação à violência doméstica. O caso que justificou a condenação foi o de Maria da Penha, que, em 1983, sofreu uma tentativa de homicídio por seu então marido, que a deixou paraplégica.

Apesar de condenado pelos tribunais, ele jamais foi preso e o processo continua em andamento devido a sucessivos recursos de apelação.