Em dezembro

Em dezembro





“Chega dezembro e dezembros outros nem se prestam a imprimir convite. Outrora chovia e as luzes coloridas, os enfeites todos, os dezembros outros, velhos como eu, esperançosos como eu, acenam como um barco de luzes apagadas que passa rente a um barco iluminado. Chega dezembro e por que não chegaria, se meses mais sombrios já chegaram e passaram? Dezembros outros ruminam. A cerca do presente os separa. A vez do presente os enquadra. A voz do presente os afasta”.

Se continuar essa lenga lenga de demagogos televisivos tentando angariar votos para a futura mamata, o resultado matemático será igual a mais capatazes fazendo do suplício de inocentes o estandarte da nova era. Está na hora de alguém falar “chega” com elegância, pois existe uma ala não contábil que está farta de asneiras, gritos e sandices.

Colega, acorda, o mundo está ficando moderno, e com isso não se pretende dizer sobre o hedonismo com teclas estilizadas, ou sobre o cultuado relativismo acadêmico que prega o fim do amor e outras pataquadas que estão sugando os neurônios finais dos acéfalos enredados em medo, orgulho e egoísmo. Tudo muda muito rápido e sempre há a chance de se sintonizar com o fluxo que renova e ascende. Você ainda supõe que a questão recente dos 40 símios que lincharam um motorista de ônibus foi causada por A. Intoxicação de derivados B. Música duvidável C. Condição sócio econômica D. NDA?

Homens e mulheres de ciência estão comprovando dia a dia, cada qual no seu país e na sua área, a existência de uma “nova” energia que desconhece tempo e espaço – ela está em todos os lugares o tempo todo. O que aconteceu com os amiguinhos do baile funk é que a sintonia deles está numa vibração muito pesada. Pois então, todo ser vivente é uma caixa de vibração e lhe afianço ser totalmente desnecessário um bacharelado em Forma e Conteúdo para concluir as toadas de uns e outros. Basta estar vivo e com o perceptômetro mais ou menos em ordem. Meio século atrás a turma se reunia em bairros sombrios embalada pelo bagulho do momento e caso houvesse um acidente envolvendo o condutor seria de comum acordo tácito chamar uma ambulância e prestar auxílio. Não haveria sequer um segundo pensamento. Assim como não houve um segundo pensamento no triste episódio desta semana. O linchamento foi uma atitude mecânica.

Bom, se “esse papo seu já tá de mãnha...”, tudo o que eu posso dizer é: "berro por seu berro". Agora ouçamos outro poeta: “A modéstia é uma moléstia, diminui o irretocável, quem é de Deus é sempre muito, nada nele é abdicável, não há menor no absoluto, nem pior nem descartável, o Incriado é amor em tudo, não existe o mensurável”. Melhor colocar a atenção no que edifica. Vejamos o que diria mister Jung: “Estou plenamente convencido de que o princípio do mal, prevalecente neste mundo, leva a necessidade espiritual despercebida à perdição. O homem comum, não protegido por algo vindo de cima, não consegue resistir ao poder da negatividade”. Uma declaração dessas, vinda do Jung, dispensa maiores reflexões.

Estamos fritos sem os poetas e os pensadores do positivo. Os novos cientistas perceberam, após exaustivos testes, que o universo é vibracional e funciona como um moto perpétuo dominó. Uma peça afeta a outra, não sendo à toa o que Bridget Meneses apregoa:
"Permita que suas palavras sejam suaves e seus argumentos fortes. A linguagem da doçura e da leveza é muito importante para eliminar e reduzir as chances de provocar os outros. Não podemos nos livrar da raiva em apenas um dia ou uma semana. Temos que ser pacientes conosco. Paz vem da observação da boa conduta e de evitar conflito com a própria consciência. Uma mente calma não é apenas pacífica, ela é divina."

Bem, esse é um site voltado à prosa e ao verso. Chega dezembro e que bons ventos nos levem. Fingir que está tudo no azeite é uma tolice cujo preço não tem dígitos, tem garras. Mais do que nunca, urge de vez em quando colocar um olho lá - onde não se deseja olhar -por questões de sobrevivência. Encerramos com outro poeta:

"Na noite que apedreja os telhados de Sampa com gotas grossas cheias de eco, carrego minhas angústias comuns de vivente para além da janela e da água que escorre pelos cantos da rua, pensando no ritmo que molha a cidade e no pranto que ensopa almas enquanto o silêncio, como uma intempérie de vácuos, lava tudo – concreto e abstrato – com a mesma melosa incerteza já se propondo ao próximo instante, embora sem sequer atinar qual seja".









 
Bernard Gontier
Enviado por Bernard Gontier em 02/12/2011
Reeditado em 24/08/2021
Código do texto: T3368502
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