GARIMPANDO
 
 
Quem garimpa, procura pedras preciosas, ouro e metais raros.
Nos garimpos reais, depois da retirada das coisas valiosas, resta a ganga, a escória, os resíduos de metais pesados, a erosão e, paradoxalmente, a miséria humana.
Riqueza, miséria, miséria, riqueza, um binômio que gira num círculo vicioso, acompanhando, sempre, essa atividade, arrastando centenas de humildes almas a estágios de extraordinária euforia e de profunda depressão.
São vidas humanas, milhares, que suportam toda a sorte de privações, de doenças, de um mínimo de condições higiênicas, de alimentação, de sono!
A meta é uma só e ela anima, dá forças, transforma cada um num gigante mitológico de persistência, de louca fixação: enriquecer!
Quem tem a sorte de encontrar algo que lhe renda um pouco mais, vai logo, premido pela carência suportada até então, para os prostíbulos, para os botecos imundos e gasta tudo.
Como sempre, neste mundo, o dinheiro vai acabar nos bolsos dos compradores, que se insinuam, em longa fila, entre o infeliz do garimpeiro e os abastados negociantes de jóias.
O espetáculo que assistimos em Serra Pelada, ilustra dramaticamente o que se imagina do Inferno! Emergindo de um enorme buraco no solo, subindo ladeiras em escadas perigosamente frágeis, uma multidão de homens maltrapilhos, cada um com um pesado saco cheio de minério sobre as costas, num cenário encoberto por uma densa camada de pó!
Pouquíssimos conseguem a fortuna e todos sabem disso, mas continuam e continuam...
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Mas, o que eu queria dizer mesmo é que eu sou, também, garimpeiro.  Mas o meu garimpo é visceralmente diferente do descrito acima!  Garimpo jóias, da mesma forma, mas não vendo nenhuma, não produzo ganga, não provoco erosão, não poluo, não ponho meu dinheiro na mão das doidivanas e muito menos nos enormes bolsos dos negociantes.
Acho muitas, todos os dias; me deleito em olhá-las, a exultar com seu brilho, a admirá-las, sempre.
Porém - sempre há um "porém" ou um "mas" - a minha sorte tem sido tanta que encontro-as em tal quantidade que acho já não estar tendo condições de lhes dar a atenção devida, a admirá-las, a proclamar sua beleza rara, a me enlevar com seu brilho!  Uma pena!
Falo das jóias do Recanto, uma vitrina com incomparável brilho, onde, eu também, exponho minhas criações, que limitarei, agora, a uma por semana, para que possa, com extremo zelo,
haurir toda a faiscante beleza das outras.
São poemas, trovas, quadras, tercetos, crônicas, pensamentos, acrósticos, cantilenas, acalantos, alexandrinos, sonetos de apurada técnica e mais uma infindável coletânea do gênio de homens e mulheres de inspiração celestial.
Vou ler todos, mesmo que para isso tenha até que parar de escrever, pois não há tempo para as duas atividades com essa dinâmica, infelizmente.  Não há como deter a força das águas que romperam a represa; o melhor que podemos fazer é acompanhar a avalanche.
paulo rego
Enviado por paulo rego em 03/12/2011
Código do texto: T3369664