Prefácio esquisitíssimo

Uma colônia de bactérias é algo, no mínimo, estranho de se oferecer. Porém é o que vou presentear a quem se dispuser ler este maço de lâminas de celulose. Tão fino que nem se aguenta em pé. Por enquanto, me faltam fortificantes para torná-lo robusto. Sou um pai sem muitos recursos, mas dedicado. Cuidem bem dele. É apenas um menino. Talvez faça alguma arte, pirraça ou diga algum desaforo. Tenha paciência. É apenas um menino. Por favor, evite os castigos físicos. Se, todavia, for necessário, ponha-se no lugar dele antes de castigar. Caso ele se mostre preconceituoso, perdoe-o, foi o pai quem o influenciou. Tente educá-lo da melhor maneira possível, sem, contudo, mudá-lo. Respeitem sua individualidade. Ele é apenas um menino.

Quando penso em presentear alguém, me preocupo demais. Não só com o presente em si, mas também com a embalagem. Uma bela embalagem é capaz de nos encantar e valorizar o conteúdo além do esperado. Encontrar a caixa certa para conter uma colônia de bactérias não foi fácil. Procurei diversas formas de envolvê-las. Corri para cá e para lá e nessa correria as bactérias se grudaram no menino. Outra alternativa jamais tive se não entregá-lo. Elas o contaminaram. Tentei estudá-las em seu corpo. Descobri alguma coisa, mas elas entram em mutação tão rápido... Por isso eu imploro. Ajudem a salvar o menino. Certamente, as bactérias não param de evoluir. Nós não podemos deixar de estudá-las. O menino agoniza. Ajudem-no, por favor.

(Provavelmente escrito em 1998)