Crônica de Natal II ( Eu vi o menino "Jesus" no ponto de ônibus

Aquele dezembro chuvoso frio, logo na época de Natal...Estava eu voltando de uma consulta médica,chateada com a confirmação pela segunda vez, pelo o mesmo reumatologista, sobre a minha doença, “não tem tratamento” , doença degenerativa das juntas, artrose avançada, só medicação para aliviar as dores, ouvi ele dizer: “ Vá para perícia médica”.

Aquilo soou como um carimbo no coração: “reprovada para o trabalho, atestado de incompetência”.

Saí cabisbaixa, com mil pensamentos na cabeça, o que fazer? Olhava pela janela do ônibus, parecia que via todos os transeuntes, a vida, em câmera lenta, sons externos misturavam-se com os sons dos meus neurônios, coração e tudo mais, o corpo dava choque involuntário.

Pensava eu, Será? Nem um milagre resolveria este problema de saúde? Teria que me acostumar com isso, afinal têm certas doenças que são da genética, difícil ficar isenta delas, já que é um prêmio hereditário de família carente de alimentação saudável.

Fiquei pensando e comecei a comparar... O corpo de uma pessoa que alimentou mal, não cuidado, com uma madeira leve, o cupim ataca primeiro e detona. E a madeira de lei seria de um corpo saudável,difícil de distruir, bem cuidado, bem estruturado. Foi com este pensamento pessimista que olhando para a rua, movimentada pelas compras natalinas, avistei:

Um menino aparentando uns doze anos de idade de cabelos curtos encaracolados dourados, feitos anéis de ouro, olhos azuis, um olhar expressivo, roupas simples, fora de moda para os padrões atuais.Fiquei chocada, mesmo ele não me fitando, estava olhando a esmo, fiquei encantada com aquele olhar incomparável, era exatamente como imaginei um dia lendo (Proezas do menino Jesus) do autor Luís Jardim sobre a infância do Messias.

Aquela imagem, aquela cena era um aviso pra mim, como se me dissesse algo: “Não sofra antecipadamente, viva o hoje, Ele está á caminho, está presente na tua trajetória

de vida!”. Talvez nem tivesse nada a ver com a figura e aparência daquele menino, coisas da minha imaginação, inspiração, mas como? Se tudo provém do Espírito Santo de Deus? Uma lição a mais a ser seguida.

Veio uma força estranha dentro de mim, uma emoção tão forte, que eu não sei se caía mais gotas de chuva na janela do ônibus, ou dos meus olhos, na mente um clarão, como se fosse flash de câmera fotográfica, a imagem do menino ficando para trás e as idéias brilhando na minha frente. Mentalmente a idéia era de superação já, esquecer a” madeira cupinzada, bichada”, partir para uma nova etapa de vida, trabalhar com tudo de bom que sobrou em mim, afinal, pernas pra que te quero? Existem outros meios....

Foi com este pensamento que senti um milagre dentro de mim, O da esperança ,sorrir com vontade, contar a todos que podemos ser feliz sim apesar de tudo.Natal é renascer para vida, acreditar que nada está totalmente perdido.

Dora Duarte