O ADVÉRBIO NÃO

Prof. Antônio de Oliveira

antonioliveira2011@live.com

Seja o vosso sim, sim; não, não. Algumas vezes, no entanto, ”não” é mera partícula de realce, como neste exemplo: – Não diga? Fico imaginando o que não diria o falecido... Em “pois não!”, interjeição, o sentido é de incredulidade ou recusa. É sinal de cortesia quando significa que estamos prontos para atender alguém: – Pois não! “Quando não” significa caso contrário: Você deverá comparecer à entrevista; quando não, perderá uma boa oportunidade de emprego. Como substantivo, “não” também é recusa: ouvir um sonoro não.

Segundo P. Antônio Vieira, o não é uma palavra terrível, pois “mata a esperança, que é o último remédio que deixou a natureza a todos os males. Não há corretivo que o modere, nem arte que o abrande, nem lisonja que o adore. Por mais que confeiteis um não, sempre amarga; por mais que o enfeiteis, sempre é feio; por mais que o doureis, sempre é ferro.” Vieira lembra que “non”, em latim, não tem direito nem avesso. Lede-o do princípio para o fim, ou do fim para o princípio, e achareis um palíndromo: é sempre “non”.

Há pessoas que soltam um não como se estivessem dando uma bofetada sem mão. O hebraico bíblico, para Vieira, traduz bem, e mais naturalmente, a essência das coisas. Assim, envergonhar a face corresponde a negar o que se pede, porque dizer não a quem pede é dar-lhe uma bofetada com a língua, tão dura, tão áspera, tão injuriosa palavra é um não.

E se um não é tão duro para quem ouve, não é menor a sua dureza para quem o diz. Sendo necessário dizer um não, Vieira chama a atenção para o modo de dizê-lo. No caso de governante, em todas as suas decisões, seja justo, ou se aplique em sê-lo, bem como inteiro e reto, bem assim reconhecido publicamente como tal. Por fim, recomenda ao Príncipe abrigar-se na Lei, tornando-a inviolável diante das demandas dos súditos. Na prática, aderir ao sim ou à ambiguidade da indefinição, quando um claro não se impõe, pode significar omissão e descompromisso.

fernanda araujo
Enviado por fernanda araujo em 10/12/2011
Código do texto: T3382483
Classificação de conteúdo: seguro