Em casa. Em paz.

Um estranho arrepio percorreu seu corpo quando abriu a porta.

A casa ainda era a mesma, seu retrato ainda sorria na estante.

Sobre a mesa, uma rosa e um bilhete:

- Seja bem vindo para sempre! Eu amo você!

Ele quase sorriu

Sabia que deveria estar feliz. Procurou no fundo da alma algo que ao menos se parecesse com felicidade, encantamento...

A poeira de anos acumulava-se sobre os móveis, nada que pudesse ser limpo com água, eram os sentimentos que se encontravam empoeirados...

Acendeu um cigarro. Olhou a fumaça que se dissipava lentamente, num de seus raros minutos de clareza e lucidez.

Não estava ali por amor, estava ali para ser amado.

A porta ainda aberta era como um convite para desistir de tudo e voltar atrás

Mas voltar ao quê? Voltar para onde?

Abriu picadas no meio do nada, construiu pontes para lugar nenhum.

Tantas doações e nenhuma troca, tanto sentimento jogado fora, tanto tempo perdido, tantas mentiras e ilusões inúteis, tantas lágrimas em vão... Apenas castelos de areia...

Ele precisava da segurança de optar pelo “caminho conveniente” ao menos uma vez.

Nem feliz, nem triste...

Repetiu em voz alta enquanto fitava o espelho:

-Apenas em Paz.