QUEM NÃO TEM CÃO...
 
 
Às vezes (ou muitas), a gente pensa uma coisa e acaba fazendo outra!
Na juventude, colecionamos tantos "únicos" amores, todos intitulados de "definitivos", "eternos", "imorredouros" e acabamos casando com a vendedora de flores, talvez subliminarmente atraídos por elas (as flores) como qualquer abelha que se preze!
 
Somos assim mesmo, intuitivamente - na procura da felicidade, que tem mil facetas- vamos pousando de flor em flor, qual beija-flor atrevido, não procurando amor simplesmente, porque esta é a incógnita maior, mas, também , por carinho, compreensão, amizade, ansiosamente tentando um equilíbrio emocional muito difícil de conseguir, em sua plenitude.
 
Felizmente, para uma grande maioria, essa luta é silenciosa, inidentificável, porque é natural, como respirar; são sentimentos em choque, que doem como a fome ou a sede, que dominam, que são imperiosos, mas sem os quais a vida não teria colorido, seria enfadonha demais para viver.
 
Para os poetas, entretanto, essa eterna procura é racional, clara e até necessária à sua sobrevivência. Caminhando, descalços, sobre o fio da navalha, no limite, por vezes, daquilo que o simples mortal chama de sanidade, vão cantando seus anseios, suas dores, seus percalços, suas esperadas alegrias, suas alvoradas multicoloridas, seus céus de chumbo, seus deslumbrantes ocasos, seu mar bravio, as brancas velas da sua fantasia.
 
A quem não verseja, ou o faz mal, como eu, resta a procura da forma melhor de atingir o mesmo objetivo, embora  sem a beleza das rimas e do gênio de dizer tudo em 14 versos, como nos sonetos.
Dizer e tocar a alma de quem os lê, de fazer com que cada leitor se identifique com seu pensamento como se fosse seu próprio - chorar ou rir como se ele  mesmo fosse o autor, que aquele texto resumisse um episódio da sua vida!
É  o que tento fazer em  centenas de caracteres!
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Como disse no início desta crônica, a gente pensa fazer uma coisa e acaba fazendo outra!
Subí a Serra (no sentido literal da  palavra, mon poète Afonsô), certo de que iria encontrar sossego maior, paz e tranquilidade, muita luz e inspiração. Infelizmente, S.Pedro não tinha sido avisado do meu intento e esqueceu as torneiras abertas.
Cinco dias inteiros de chuva! Aquela garoa que quase não se sente, mas que castiga durante as 24 horas do dia. Que venda o sol, que penetra a gente até aos ossos, que teima em deixar meias ensopadas e desagradáveis, que rescende a mofo, que tira a graça das cores, que afugenta as borboletas e pássaros, que manieta o ânimo...
Os cerca de 400 metros de estradinha que separam o portão do sítio da casa, num elevado platô, viraram purê de batata , o que equivale a dizer "quem tá de fora, não entra e quem tá de dentro vai ter sorte se conseguir sair".
Eu tive sorte, e - na primeira estiagem - fugi vergonhosamente e voltei pro asfalto.
Já estou no apê, seco e bem feliz, com malas, cachorro e mulher (sem comparações, por favor).
Embora não tenha produzido nada lá, porque nenhuma musa é impermeável, vim fazê-lo aqui , aproveitando o tema que a própria garoa, sem querer, me deu, graças, afinal, ao velho amigo S.Pedro, guardião da fonte celeste. 
paulo rego
Enviado por paulo rego em 20/12/2011
Reeditado em 22/12/2011
Código do texto: T3398944