Cartões de Natal

Quando eu era criança, a época de Natal junto com seus pratos típicos, ornamentação característica, presentes e festas, tinha uma diversão a mais: os cartões de Natal.

Havia toda uma preparação que minha mãe fazia, incluindo nomes e alterando endereços em uma lista que a cada ano parecia maior. As caixas de cartões da UNICEF, ou embalagens da Sociedade dos Artistas Pintores Sem-Mãos eram esvaziadas uma a uma, enquanto os votos de boas festas eram formulados, mencionando todos os integrantes da família do destinatário. Os envelopes eram sobrescritos manualmente, fechados um a um com cola e selados. Ao final, para facilitar o despacho eram separados em pilhas “na cidade” “no estado” “outros estados”. E até o fato de ir ao correios e colocar os cartões nas caixas coletoras específicas era divertido.

A distração não parava por aí. Como era de se esperar, recebíamos muitos cartões em resposta aos nossos. E após assinalar o remetente na lista de destinatários, o cartão era colado com fita adesiva a uma árvore de papel laminado que era afixada atrás da porta de entrada do nosso apartamento. Perto do dia 25 já não se via mais o papel que servia de base aos cartões.

Além disso, lembro que cedo, na noite de Natal, meu pai sentava à sua escrivaninha, abria sua cadernetinha de endereços e ligava para diversos colegas e amigos para desejar-lhes um feliz Natal.

Finalmente, quando todo o conjunto era desmontado, separávamos as gravuras mais bonitas, ou cartões de alguém em especial que rolaria entre nossos guardados até se estragarem.

Com o passar do tempo, a criação da árvore de papel laminado ficou sendo tarefa minha, que executei com prazer até deixar a casa de meus pais. Ainda trouxe para a minha casa o hábito de criar algo para os cartões de Natal, mas, com o tempo a quantidade foi diminuindo e a árvore-suporte passou a não ter muito sentido.

Depois veio o computador, malas-diretas, etiquetamento, internet, e-mail, redes sociais, e hoje em dia é raro receber algo pelo correio que não seja contas, anúncios comerciais ou propaganda política: em forma de spam não virtual. Eu mesmo sou réu confesso: coloco minha mensagem natalina no Facebook, no Twitter, e em mais dois ou três sites e limito-me a responder os poucos cartões que chegam. Os votos são os mesmos, pode-se escrever mais, o custo é menor, é mais rápido, não corre risco de extravio... Então por que eu sinto que algo foi perdido durante a evolução do processo?

Mudaram os cartões ou mudei eu?

Sérgio de M.Serra

Dez.2011

Sérgio Serra
Enviado por Sérgio Serra em 24/12/2011
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