O segredo da foto.

Conversando com Wilson Gorj, o assunto, claro, só podia ser literatura, contos, histórias...

E lá pelas tantas, fiquei interessado na história do locutor.

Segundo o autor, um amigo dele tinha acabado de comprar nessas feiras de barganhas um telefone antigo, objeto que lhe serviu de fonte inspiradora para o seu conto “Discagem Indireta”. Contou-me ainda que se inspirou também num episódio da antiga séria americana ALÉM DA IMAGINAÇÃO, na qual um sujeito compra um rádio antigo e quando chega em casa descobre que o aparelho só toca uma programação remota lá dos anos 60... Isso o assustou. Bem, mas essa é outra história.

A minha começa aqui.

Sempre gostei de preservar e apreciar algumas coisas antigas. Por isso, sempre quando vou à feirinha de quinta-feira em Aparecida, ou a de sexta-feira lá na cidade de Potim, passo algum tempo observando aquelas peças antigas. E, naturalmente, por momentos, surgem gostosas lembranças do passado: pequenos sonhos de consumo hoje jogados no chão... Foi quando vi um rádio antigo e lembrei-me imediatamente do amigo Wilson, com o que ri internamente. Um senhor de fisionomia não muito estranha, ao lado do tal rádio, percebendo meu pequeno riso perguntou com voz grave: “Está alegre?”

“Que nada”, respondi. “É que me lembrei de uma historia de um amigo”.

Apontei o dedo para um rádio antigo ali na banca, o qual por coincidência também transmitia uma programação antiga. Mas não me assustei. Era sexta-feira, aniversário de uma emissora de rádio, de modo que, naquele dia, reprisavam trechos de vários programas antigos.

Perguntei:

–– Quanto custa aquele rádio ali?

Ele respondeu: “Não não! Este não está à venda. Trago até aqui simplesmente porque gosto. Assim ele fica de amostra para alguns apreciadores... Sinto muito, mas esse não deixo nem depois de morto!”

Ao que eu respondi: “Tudo bem. Posso ao menos tirar uma foto do senhor com o rádio?” Ele disse que sim, que podia. Então tirei a fotografia desejada, a qual, aliás, teve até uma obra pública ao fundo. Batida a foto, eu disse: “Olha, eu vou dar uma volta. Daqui a pouco eu volto.

Passei mais alguns minutos na feira. Cumprimentei amigos e, claro, não podia deixar de comer alguns pasteis e caçulinhas.

Como era época de eleição, tinha até candidatos e pré-candidatos políticos: a Deputado, a Prefeito... Eles também comendo e pagando pastel pra todo mundo.

Dirigi-me novamente a banca de antiguidades, e de longe já fui atraído pelo som do rádio antigo. Agora, ao lado direito do aparelho, estava um outro senhor. Pensei: “Deve ser o dono da banca, quem sabe um auxiliar de vendas”. E tornei a perguntar:

- Quanto custa esse rádio, senhor?

Ele também respondeu que não estava à venda. Era de um amigo que morreu.

À essa referência, sua voz embargou-se. E de repente tudo ficou estático. Apenas o meu movimento e outro a minha esquerda.

Então, lentamente olhei para a esquerda do rádio, que ainda tocava uma programação antiga; ao lado do aparelho, o outro homem, o que antes havia se declarado dono do tal rádio, silenciosamente sorria para mim...

Ate hoje não tive coragem de revelar a foto.

[Quanto ao senhor de cabelos brancos que se dizia dono do rádio, sempre o vejo pelas ruas da cidade!]

Reinaldo Cabral
Enviado por Reinaldo Cabral em 08/01/2007
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