NATAL DE PAZ
Prof. Antônio de Oliveira
antonioliveira2011@live.com
Pra variar, com raiva, de certa feita Macunaíma quis bater num curumim, porém, apesar de herói sem nenhum caráter, lembrou de cor: “Quando você estiver embrabecendo conta três vezes os botões da vossa roupa”.
Macunaíma contou e ficou manso de novo.
O Natal produz um fruto de época chamado contar-até-três.
Há quem diga que três foi a conta que Deus fez, a conta da paz, a conta da concórdia. Esse fruto, que deveria dar o ano todo, foi anunciado pelo anjo:
“Paz na terra aos homens...”
O anjo anunciou também, “para todo o povo, uma grande alegria”. Uma ode à alegria para celebrar o recém-nascido. Um prelúdio. Uma abertura musical em grande estilo. Um concerto divino para consertar o mundo. Um divisor de águas: de um lado, e para trás, deveria ficar dente por dente, olho por olho;
do outro, sejamos todos irmãos. Prefácio de uma nova página da história,
de loucura para os pagãos. Pois, vingança, não! Prólogo de um extraordinário caso de amor a nos convidar, a todos, a entrar no clima dos primeiros acordes da 9.ª Sinfonia de Beethoven.
Atualmente, as luzes do comércio ofuscam e cegam pelo consumismo: lojas exibem presentes inimagináveis; supermercados oferecem vinho, castanhas, frutas cristalizadas e outros ingredientes para a maior ceia do ano. Faturar é a palavra de ordem. Mas o Natal não é bem isso: existe descaso, persiste o ódio. Violência, miséria, corrupção, discórdia. E nada disso combina com a lição que se deve ter do Natal. Criancinhas continuam sem lugar, para elas, nas estalagens ou, recém-nascidas, continuam sendo depositadas em manjedoura, e não num berço. O imaginário popular, estimulado pelo comércio, transformou manjedoura em bercinhos de ouro, trabalho de ourives ou de artesão, e motivo de enfeite. Na realidade, manjedoura significa cocho mesmo.
Um mundo transfigurado e melhor é preciso. Passar da mão armada à mão amada. Uma utopia que já dura mais de dois milênios. Mas a gente não desiste. – Feliz Natal!