ADEUS ANO VELHO

ADEUS ANO VELHO

Agarro-me a ti como se fosse minhas últimas e derradeiras horas. Revolto-me porque sinto que estou no fim da estrada. Este marco 31/12 é o final de uma estrada. Uma viagem difícil, que durante muitos trechos, senti-me cansada, quebrada mesmo. Parei no acostamento para descansar, com certo receio de ser atropelada pelos acontecimentos cotidianos. Não posso esquecer-me de mencionar, que muitas vezes quase perdi a direção, pois tive muito sono, cochilei durante muitas curvas, derrapei, mas graças a Deus, e a ajuda invisível, abençoada e salutar de meus anjos da guarda, voltava sempre ao curso da direção.

Deixei de apreciar a paisagem, pois insegura, acreditava que se estivesse “no controle” todo o tempo, estaria sendo a melhor condutora de minha própria vida, e por esta escolha egoísta, sei que perdi inúmeros momentos de beleza incomparável. Deixei de compartilhar minhas preocupações com quem mais se preocupa comigo e vela o tempo todo. Estando eu alegre ou triste, ele sempre está lá, esperando um pouco de minha atenção. Como um pai bondoso e compreensivo, ele sabe que estou apenas evoluindo, e que a estrada é o caminho até a redenção.

Agora que poucas horas me restam deste tempo certeiro, fronteira entre o agora e o desconhecido dá-me o luxo desnecessário de lamentar o que não fiz por que não quis. Talvez quem sabe nessas poucas horas que nos restam, entre eu e este ano que se despede, eu possa enxergar com clareza, que deixei para trás muitas oportunidades de ser feliz, de curtir minúsculas alegrias, que se tivessem acontecido seriam pequeninas luzes hoje a iluminar o caminho por onde passei. Talvez, se eu olhasse agora para trás, veria estas pequeninas chamas como um colar luminoso, lembranças de pequeninos mimos que eu mesma deixei de me ofertar.

O caminho agora escuro parece uma noite interminável, com um vento forte, anunciando uma tempestade tropical. As árvores ao longo da estrada, à medida que são varridas contra o vento, deixam no ar, um cheiro de verde que me invade as narinas e faz morada em minhas células, reservando-se para o futuro breve de algumas horas. Quero levar na memória dos sentidos, quando chegar ao final desta estrada, apenas o cheiro fresco desta verde esperança que preciso para recomeçar cheia de energia, oxigenada plenamente para dirigir meus dias pela nova estrada que se anuncia, na próxima curva das pernas do relógio da existência que permeia minha realidade cativante e sem fronteiras.

Seguirei em frente, sem fazer escolhas, sem ligar o piloto automático, apenas deixando o vento bater-me a face, entregando-me a cada novo momento, e vivenciando como se fosse o último, com a plena consciência de que a vida é o melhor que temos recebido do grande Criador do Universo. Deixando o sol brilhar por todos os cantos, para afastar a bruma e a tristeza desse pesadelo horripilante que é findar uma longa estrada, percebendo que deixamos de viver plenamente, simplesmente por nos afastarmos do ideal traçado lá no distante pretérito, no inicio de todas as coisas.

Aradia Rhianon
Enviado por Aradia Rhianon em 30/12/2011
Código do texto: T3413378
Copyright © 2011. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.