Belos quadros

Num texto maravilhoso do livro Poemas para rezar, o autor Michel Quoist registra seu encantamento diante dos quadros verdes de uma escola moderna, que lhe fora apresentada por um diretor muito ufano das comodidades do prédio escolar. O verde, lê-se no poema, é a cor ideal visto que "não cansa a vista, pacifica, relaxa os nervos", e o Criador, sabiamente, antes que a ciência descobrisse as características benéficas do verde, já pintara com essa cor as nossas campinas e os nossos arvoredos...

Várias décadas nos separam dessa apologia dos quadros verdes. Hoje, se é verdade que ainda convivemos com escolas paupérrimas em que os quadros verdes sejam talvez o maior requinte, é também notório que a tecnologia chegou a muitas escolas, e o autor seria apresentado a um sofisticado aparato técnico e a quadros brancos, sobre os quais – quando usados – se deslizam pincéis atômicos. Nesse caso, é possível que o poeta falasse do branco e de suas também propícias relações com o ambiente escolar...

Nos meus tempos de escola, ainda vi quadros-negros, mas me habituei mesmo aos mestres diante das lousas verdes. Voz, gestos, giz e escrita no verde. O verde estava ali a receber o branco da sabedoria do mestre, a nos passar conhecimento e experiência. A grande sofisticação, à época, era uma aula de História com uma exibição comentada de slides. Estudar era, sobretudo, anotar as aulas que o mestre reproduzia na lousa verde, para depois sermos arguídos e fazermos provas. A lousa era também uma grande facilitadora do livro. O livro era feito por alguém distante, mas o mestre estava perto e nos compreendia muito bem.

Não penso que fôssemos melhores... Éramos diferentes e, certamente, por isso, temos hoje uma saudade visual de nossos mestres, materializada também no desenho das letras, que se desmancharam naqueles quadros. É pena não tivéssemos à época um celular ou uma câmera digital para eternizarmos aqueles momentos, que, muitas vezes, reuniam beleza e arte.

Anos e anos copiando as lições dos mestres ou apagando as lições de colegas para também registrar as minhas, acostumei-me aos traços gráficos dos saudosos professores Mário Zágari, José Ribeiro, Terezinha de Castro Pinto, Romano Quintão, Napoleão Nocera, Maria do Socorro Braga, Antônio Detoni, Wenceslau Nei de Carvalho e João Evangelista Lima Filho, aos quais, neste dia do professor, rendo homenagens pelos belos quadros, que não se apagam! (Publicado no Jornal JF HOJE em 15/10/2010)