Encontros&Desencontros
            Uma sociedade altamente manipulada como é a nossa, transforma-se facilmente numa selva temerosa.  Tanto mais perigosa quanto mais intensa a manipulação.
            Como saber que aquela língua pica mais que um escorpião?
            Como saber se aquela afabilidade é a esperteza de uma raposa?
            E aquele abraço é de urso?
            E, mais além, será que esconde a voracidade do tubarão?
            Que tal interesse singelo é a curiosidade de uma hiena, escavando sepulcros?
            Que a aparente altivez de um vôo esconde o urubu que busca carniça?
            Que a suposta prudência é expressão da preguiça omissa, que não quer se envolver?
            E aquele zelo impetuoso é a máscara de um chacal, ardiloso e cruel?
            E como identificar a traça que invade sua intimidade para devorar todos os seus livros? E que se aproximou de você exatamente para isso?
            Uma pequena selva esconde-se dentro de cada um de nós. Potencialmente, somos como que síntese de fauna variada que busca aflorar em nosso comportamento. Ímpetos da operosidade da formiga oscilam para a ociosidade da cigarra. A solicitude do pássaro que alimenta o filhote compete com a voracidade da piranha que devora a vítima até chegar aos limites
            Convivemos com isto dentro de nós.
            Os inimigos que nos cercam não podem roubar o nosso ser. Conseguem, quando muito, roubar o que temos.
            Já a vitória sobre os inimigos que habitam o nosso interior é a mais perfeita e a mais difícil das vitórias e o melhor projeto que se pode ter para o novo ano que se inicia.