A PEDRA MALDITA

São andarilhos, moribundos, imploram por um pedaço de pão... Na verdade não querem pão, querem pedra...Pedra, que disfarça a fome, que os tira da realidade, e que rapidamente os consome. Não tem idade, muito menos identidade, são conhecidos pela alcunha de os drogados, os craqueiros... Não caminham, perambulam. Parecem mortos vivos, olhar sem brilho, rostos assustados, vivem as escuras, nos becos, no lixo. Uma realidade nua e crua que assola cada dia mais o mundo cão em que vivemos. Crianças sem infancia, sem esperança, maltrapilhos, pés descalsos.

No rosto, a angustia, nas mãos sujas encardidas e trêmulas a tentativa de acender mais uma pedra, a maldita pedra. Não se preocupam nem em se esconder mais, agora é a qualquer hora do dia ou da noite. O olhar morto mira apenas o pequeno fogo que vai acender mais um, mais um e mais um...Adultos que não acreditam mais em nada, são muitos de mamando a caducando.

E assim, eles vivem como ratos que se arrastam as margens de uma sociedade que nada faz pra mudar este cenário degradante e insiste em fazer de conta que este problema não existe. E ele existe hem! E é um problema social sim, que deve e precisa ser combatido, mas é mais fácil não olhar, pular por cima, do que estender a mão. Futuro? Que futuro eles esperam?

...

Simplesmente não há esperança de futuro, há sim a descrença, a falta de tudo. Vivemos sob o mesmo céu e no entanto este céu pra eles é cor de cinza, o cinza da maldita pedra!

Aqui na linha divisória que separa os dois países, é um espaço que é terra de ninguém, parece que é ainda pior que no resto do país, porque aqui é a visão do inferno. Um país joga a responsabilidade para o outro e assim caminha a falta de humanidade...

Era uma criança, um menino...Sentado no sargeta, ele tentava desesperadamente acender mais uma pedra. As mãos trêmulas, mal conseguiam segurar o isqueiro que teimava em não acender.

Eram onze e meia da manhã, o sol a pico, e ele já estava numa situação deplorável.

Parei em frente aquela criança e tentei falar com ele, na verdade até falei, mas ele não me ouviu, apenas me olhou com os olhos vidrados, sem vida, a pele amarelada, as mãozinhas sujas, unhas encardidas. Outros maiores me observavam um pouco distante dele, rostos desfigurados pelo consumo da maldita droga, pareciam bicho que assusta e causa medo. Voltei o olhar para aquele menino e mais uma vez tentei chamar sua atenção, mas ele continuou no mundo dele, um mundo sem expectativa, um mundo de tristeza e desesperança, um mundo onde cada dia mais famílias inteiras são dizimadas pela maldita droga que assola o mundo!

Neusa Staut

06.01.2012

Neusa Staut
Enviado por Neusa Staut em 06/01/2012
Reeditado em 26/07/2012
Código do texto: T3426502
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