Para alguém comemorar

Quanto o futebol faz falta em período de férias: novela não tem férias, não é injusto? As pessoas ligadas ao ramo não tem um sindicato que os proteja?

O fato é que não há mal que sempre dure; um torneio redentor, Cidade de São Paulo, vem tirar-nos do marasmo futebolístico e nos colocar em pé de igualdade com os horários das novelas, além, é claro, de promover o entrelaçamento de todos os estados do território nacional, times de todas as unidades da federação são convidados a participarem da festa paulistana.

O mundo ficou pequeno para quem se senta à frente de um computador, mas para quem vem de um longínquo confim a quilometragem é cruel, torturante.

Times chegam das fronteiras, fazem uma viagem de 4.000 quilômetros em condições precárias, desembarcam na hora do jogo.

Os “jogadores” mais falantes e extrovertidos deixam escapar que no ônibus lotado, aquele que vier de pé paga apenas meia passagem; podemos atribuir um pouco ao exagero, mas alguns afirmam que tem ônibus que vem com todas as poltronas vazias e com um time, além da “comissão técnica” de pé, pelo corredor da jardineira.

Chegam ao local do jogo quando o juiz vai dar início à partida, e é comum se ouvir:

-Professor, por favor, mandem me esperar por um minutinho, preciso fazer xixi

Os gols saem em profusão, sempre a favor dos times do estado anfitrião, os visitantes, por momentos se esquecem que estão jogando e ficam admirados com a quantidade de copinhos de água a que tem direito; um jogador ou outro pode pensar”Não seria isto um desperdício?”

Alegria geral, placar dilatado, quase alcançando os 3 dígitos, e os cristãos na arena promovem a alegria, quero dizer, e os jogadores no campo promovem a alegria.

Juízes facciosos cuidam de aumentar o resultado, favorecendo os da “casa”, como se aquele que não é da casa tivesse forças para ser adversários e não apenas convidados.

Se um cristão, digo, se um jogador, se esqueceu de trazer seu calção, a vizinhança solícita se apressa para conseguir um emprestado, mas nem sempre conseguem um calção com o exato número daquele jogador de memória falha.

Quer me parecer que a humilhação provoca cãibras, quando o placar apresenta um 37 a 2, começam as cãibras, e o time da fronteira não trouxe um médico, fazendo do médico local um solidários que passa a atender aos visitantes.

Pergunta alguém:

-Doutor, qual é o problema do menino?

E o profissional responde:

-São cãibras, provocadas pelo esgotamento físico, por falta de potássio, de cálcio...e quando eu receber uma tabela periódica, concluo meu diagnóstico, bem como esta entrevista

Sabe-se que muitos jogadores simulam lesões apenas para ganhar um deslumbrante copo de água Prata, vista por eles como Ouro.

Ao final de 3 jogos, quando são eliminados posam para fotografias ao lado de autoridades locais, das quais não sabem o nome, mas sabem que são pessoas importantes.

Voltam para seu estado de origem, de pé, no corredor de um ônibus, as medidas econômicas continuam, menos para o jogador que foi eleito o mais simpático do grupo, que ganhou uma passagem aérea para voltar ao seu rincão natal. Fez-se para ele a felicidade total, feito que nunca irá se esquecer, pois terá para dizer aos seus netos que voou, por algum tempo, lado a lado com um urubu

Roberto Chaim
Enviado por Roberto Chaim em 08/01/2012
Reeditado em 08/01/2012
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