As bolsistas e um banheiro qualquer

Pobre duvida sempre que alguma coisa boa acontece. Preocupa-se tanto que acaba não tirando proveito da situação, mesmo que seja para rir de si mesmo.

Fomos trabalhar em uma mini biblioteca em troca de bolsa integral da faculdade, só não sabíamos o que nos esperava. Soubemos lá no local que se tratava de um cubículo sem toalete e nem água, como se fôssemos homens para urinar em pé ou camelos com espaço para armazenar água por muito tempo.

Duas de nós trabalhariam pela manhã por cinco horas e as outras duas à tarde. Íamos munidas de garrafas com água e alguma coisa para lanchar, nos dias mais difíceis, pipocas doces que eram mais baratas e não engordavam.

Sabíamos que as colegas da manhã davam um jeito e evitavam até tomar muita para não terem de ir ao banheiro. A minha amiga de horário não tinha grandes problemas, tomava pouca água, inclusive, uma garrafinha de água era guardada por ela por quase uma semana, corria o risco de engolir junto umas larvas dos mosquitinhos da dengue.

As tardes eram longas e a vontade surgia, o banheiro mais próximo e devidamente em condições de uso era na loja Casas Bahia. Eu entrava como se fosse fazer um orçamento ou pagar alguma dívida, a vergonha era grande mas a vontade era muito maior. Saía feliz e ainda enchia a garrafa de água fresca de um bebedouro à disposição dos clientes, coisa que eu não era. Não me atrevia a olhar para os lados com receio de que algum vendedor me abordasse. Ser chamada à atenção pelo gerente por jogar fora a água da bexiga no banheiro da loja e ainda roubar um pouco de água, seria demais!

Acontece que a minha amiga partiu, com certeza para um emprego com água e banheiro.

Veio outra acadêmica e com ela dividi a cumplicidade de não poder guardar a urina por muito tempo. Passamos a freqüentar o boteco perto da mini biblioteca e acreditem, passamos a urinar em pé. Até nisso nos igualamos aos homens com a pequena diferença de que não podíamos usar os postes, as árvores, os muros ou mesmo lugares abertos, ainda. A única dificuldade era a de que a birosca ficava cheia de homens o dia inteiro, uns desocupados que não entendiam as necessidades femininas. Quando a vontade surgia ficávamos vigiando o boteco e rogando aos céus para que eles dessem uma trégua e, eis que no vai e vem o bar esvaziava por míseros minutos e disparávamos, uma de cada vez para aquele alívio de deixar qualquer um feliz. A quem nos visse antes e depois de ir ao wc com certeza diria se tratar de outras pessoas, pois ríamos mais, o corpo se movimentava melhor e contávamos piadas...E há quem diga que não conhece a felicidade, experimentem ir ao banheiro depois de ficar segurando o xixi por um bom tempo, acreditarão na felicidade plena.

Incrível como podemos conhecer tantos banheiros em tão pouco tempo, um deles nem merece destaque, tentem imaginar um lixão, com pouco luminosidade e todos os cheiros misturados, conseguiram?, não passa nem perto!

Estava me esquecendo do banheiro, toalete, wc ou seja lá o nome que queiram dar, da loja de empréstimo financeiros. Ele era todo entulhado de tralhas e trecos, alguém alto e um pouquinho acima do peso com certeza teria dificuldades para se mexer lá dentro, sentar no sanitário então, estava fora de questão, a pessoa ficaria presa com direito a ser salva pelo corpo de bombeiros.

Ainda somos bolsistas e corremos o risco de precisar de roupas secas qualquer dia desses, já sugeri a minha amiga que leve um saquinho porque eu providenciarei uma fralda descartável.

Shirley Rosa Leonardo
Enviado por Shirley Rosa Leonardo em 08/01/2012
Reeditado em 08/01/2012
Código do texto: T3429670
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2012. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.