Tá de sacanagem comigo?

 

Mais uma noite se foi e você não apareceu. Que poderia ter acontecido?
Talvez algum aborrecimento? Mas, não me recordo de algo ruim ter nos afligido.
Ah! Sucesso imprevisto, no cabaré “Le Moulin Rouge”? Como? Réveillon em Paris.
Ingênuas rosas-japonesas caídas ao chão a sorver lágrimas de orvalho, hidratando suas pétalas para evitar a queda e desfalecer de fraqueza.
Elas vivem a dissipar aromas de bondade pra acautelar pressentimentos de hostilidade, que se abeiram trazendo notícias de morte, divisão, falta de sorte.
Perdoam infidelidades cerrando os olhos às evidências tão claras quanto o por do sol, quando preanuncia o despontar do derradeiro dia.
Afinal, afirmam os mais velhos: O amor é cego, surdo e às vezes burro.
Alguém aconselhou: - Toma licor de anis pra curar essa cicatriz e aliviar essa sina de acreditar que é verdade as mentiras que ele lhe diz.
Pus-me a degustar amendoim, em vez de, encarar o Caim que habitava em mim.
Se a cegueira me pegou, rogo-lhe Senhor: - Dá-me um ceguinho, por favor?
Mas um ceguinho que, de fato, me atraia e jamais me traia.
Que jogue baralho e goste de dama. Ignore a fama, seja espada, tome banho e escove os dentes.
Mas, pera aí. Há escritos sobre cegos que li e também ouvi.
“Acaso pode um cego guiar o outro sem cair os dois no fosso?”
E foi correndo o risco físico de cair na armadilha de uma fissura vulcânica, que mantive o meu pedido.
Não é que o Senhor ouviu minha prece e logo, logo me enviou a encomenda exigida?
Foi então que compreendi que nada devo impetrar, sem antes agradecer o que já tenho pra almoçar.
Que é bom tirar um tempo para pensar e refletir. Se o que imagino estar ruim, depende às vezes, só de mim. Nada devo recear. Coragem, fé e ação solucionam qualquer problema mal resolvido, a princípio sem explicação. A intervenção divina certamente virá no momento propício para nos auxiliar. As graças e as bênçãos chegarão na medida exata, e não preciso conferir, apenas constatar. Necessário se faz saber ler os sinais.
Deus sabe nos presentear, bem como a hora certa pra enviar-nos a oferta. Por que fui me antecipar?
-Ui! Tire esse braço daí... Meu tato não lhe reconhece.
-Quem mais me descobriu nessa curvatura orgânica?
-Tire essa mão daí seu safado!
-Estou em cima de uma chama,ou isso é uma cama? Indagou uma voz feminina.
-Tem outra mulher aí? Gritei. - Vou chamar a polícia, hein.
-Não, espere um momento... Uma voz respondeu veemente.
-Ah! Essa voz eu reconheço, caminhou comigo desde o início.
Não acredito... Sou mesma, uma aprendiz! Estou sendo traída, debaixo do meu nariz.
Que vergonha! E isso não é armação.
Quero separação. Na hora da confusão só se ouve a razão.
Passado a turbulência, a bonança deu seu aval.
Você foi morar com a outra, logo após o carnaval.
Eu escolhi curtir um cruzeiro, do Havaí a Portugal.
Arquivei as velhas lembranças em um museu imperial.
Hoje você pode me encontrar velejando,
De verso em prosa ou vice versa,
Sem medo de ancorar. Porto Seguro, Bahia, Paulo Afonso. Axé mainha!
Ah! Não posso deixar de dizer que troquei o sofá bi cama, depois de uma semana.
Não lhe falei sobre o analista que agora tenho em vista?
Pois é, estou aprendendo a perscrutar as vozes do inconsciente,
Descobri alguns porquês e procuro responder às indagações no decorrer dessa viagem.
Só mesmo os desaforados se atreveram a me perguntar:
-Você é virgem?
-Que é... tá de sacanagem comigo?
-Sou sagitariana! Dá licença!