POLUIÇÃO POÉTICA

O mundo virtual, trouxe muitas facilidades e oportunidades também à literatura. Também e principalmente para a literatura poética. Trouxe facilidade, e muita poluição, exigindo um filtro atento daquilo que é literatura, mesmo amadora, do que é apenas amontoados de palavras, ou simples tentativas de pessoas que tem vontade mais não tem tendência para tal. Se bem que isso não é problema, pois, se existe gosto e uma boa dose de interesse para estudar o assunto, a qualidade virá naturalmente.

Problema mesmo são as pessoas que não tendo o talento para a literatura poética, acabam se utilizando da facilidade de se expor, para defender um falso modelo contemporâneo. Escrevem qualquer coisa, de qualquer jeito, sem o mínimo critério nem talento e a defendem como sendo moderno, contemporâneo, um estilo novo, dando-se até ao luxo de desdenhar quem prima por um mínimo de bom senso, de bom gosto, de estética e princípios.

E dentre desse entendimento, levo em consideração o fato de que a literatura popular, dentro do contexto das prosas e versos, já se liberou de muitas condicionantes impostas pelos modelos tradicionais. Liberamo-nos da métrica, da rima, da quantidade de versos, etc. etc. regras então existentes que faziam de um poema, de um soneto, muito mais que simplesmente expressar a poesia. Era algo que precisava ser bólido, como um artesão, como um escultor faz com sua obra, daí se dizer a poesia uma arte.

Entendo que essa liberdade foi necessária, para popularizar a arte de escrever poeticamente. Mas creio, em contrapartida, que tudo tem seu tempo e o bom senso exige alguns cuidados, para que não se confunda a liberdade de expressão, com a libertinagem anárquica, confundindo-se a efetiva liberdade de expressão, com o direito de cada um fazer o que bem entende. Aliás, os canastrões adoram o modismo abestalhado da liberdade absoluta, sempre defendendo a ausência de regras e padrões.

Não quero aqui invalidar todas as iniciativas e o direito a liberdade de que cada um se expresse ao seu bel prazer, mas sim defender o bom gosto, a ordem, a beleza estética, o bom gosto gramatical. Defender um mínimo de padrões, para que se possa distinguir aquele que tem a aptidão pela literatura poética, de maior ou menor nível – não importa – dos penetras de ocasião. Não podemos confundir os inovadores com os rebeldes plantonistas, de causas abstratas.

Entendo sim, que a literatura poética não tem que ficar restrita a rígidos padrões como já citado. Mas é necessário manter um mínimo de elegância. Para quem escreve poemas, precisa, no mínimo entender que essa linguagem requer sonoridade, concatenação dos versos, pontuações adequadamente colocadas para que de as devidas e necessárias entonações ao ser lida, ao ser recitada.

Se não tem rima, precisa de certa combinação tônica para que preserve um mínimo de sonoridade. Se não tem métrica, requer que se respeitem quem o lerá, para manter harmonia fonética. Vejo tanta gente escrevendo qualquer coisa, de qualquer jeito e os coloca em pseudos versos, sem a mínima harmonia, sem a mínima sonoridade, que são elementos indispensáveis para ser considerado um poema. E requer principalmente que seja separada em estrofes, que completem o sentido do grupo de versos, assim como se separa um texto qualquer em parágrafos.

Vejo também, pessoas que tentam vender a imagem de serem artistas dos sonetos, escrevendo seus poemas dentro dos moldes de soneto, porém, não mantendo o padrão métrico e compondo versos que se completam nos seguintes, tão apenas para manter uma enganosa aparência.

Não estou dizendo tudo isso, para querer repassar a idéia de que sou um profundo conhecedor do assunto. Não sou. Escrevo meus poemas normalmente com versos livres, salvo exceções, mas sempre atento aos princípios da sonoridade, da harmonia e buscando a figuração das imagens e ampliação dos sentidos, através do uso das metáforas, elemento indispensável para que se considere um poema.

O mundo foi feito para todos, mas a beleza para quem tem bom gosto.

Eacoelho
Enviado por Eacoelho em 09/01/2012
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