A Solitária

Seus caminhos eram estreitos, misteriosos. O mistério estava no desconhecido, justamente onde não se encontrava, onde se esvaecia, no cerne do nada. Era tudo um segredo. Tinha apenas dezessete anos e as ruas eram tortuosas, planas, sem subidas. Podia ver no horizonte sua face manchada, seu ventre em pedaços. O horizonte era uma vidraça estilhaçada. Na memória carregava apenas alguns esquecimentos, como a dizer: como pude? No hotel de segunda em que se hospedara a fumaça do cigarro chamuscava sua alma. Era tudo um cinzeiro, uma cama velha, um guarda-roupas marfim, um livro. Sua vida era quatro objetos. Seu olhar era assustado, sua pele aveludada, seu cheiro arrebatador. Era uma solitária, a mergulhar nos descaminhos do mundo.