"Arrependimento”.


Sabe querida, pensando bem, nossa união não foi uma coisa boa.
Na pracinha, você caminhava com as amigas, eu fiz umas gracinhas, você jogou o cabelo.
Insisti e embora não devesse, aconteceu, você aceitou a minha corte.
Começamos a namorar escondido, seu pai era muito bravo, nós forçamos a barra, até que ele viu ser impossível evitar, aí casamos.
Sem as mínimas condições de construir um lar, mas amando desesperadamente.
Começamos com um humilde quarto e cozinha.
Mesmo tendo poucas despesas, tinha que trabalhar muito.
Fazer horas extras para pagar os móveis e todas as prestações.
Não podíamos sequer ir ao cinema, então íamos a uma pracinha ou a uma igreja, ou ver as águas de um caudaloso rio que passava próximo.
Aí veio o primeiro bebê, fraquinho, desnutrido, faltavam as vitaminas básicas para sua formação.
Ficou conosco pouco tempo. Papai do céu o levou.
Quase morremos de tristeza.
Aí você falou: "Não quero mais filhos.". Concordei, pois era muito difícil de cuidar, devido à penúria que passávamos.
Você começou a trabalhar para fora e as coisas melhoraram.
E veio nosso segundo filho.
Uma menina linda como você.
Você logo retornou ao trabalho, a deixava com uma vizinha.
As coisas começaram a melhorar e você parou de trabalhar, veio nosso terceiro filho, mudamos de casa, com emprego e salários bons, veio o quarto filho.
Ficamos com uma menina e dois meninos, éramos muito felizes.
De repente você ficou com uma tosse esquisita, começou a emagrecer, as coisas foram ficando ruins, o dinheiro acabou.
Rezei, chorei, implorei, mas os santos e anjos deveriam estar ocupados com o pessoal da cidade, pois não adiantou, você morreu. Nossa filha de tenra idade virou o homem da casa.
Assumiu tudo. Trabalhava como escrava, lavando,  limpando e cozinhando.
Era uma administradora, as coisas voltaram a se aprumar.
Fomos para a cidade, pelas facilidades, escola, trabalho.
Com a filha já mocinha apareceram os gaviões, mas ela não se interessava, era o chefe da família.
Aí eu fiquei doente, aquela mesma tosse.
Fui emagrecendo, mas reagi. Tomei remédio e melhorei.
Com ajuda de minha filha e do pessoal da cidade, voltei para casa bom.
Pedi perdão para Deus, por tudo que eu havia xingado e blasfemado, e bateu o arrependimento.
Eu poderia ter procurado ajuda, já existia o remédio, a cura, eu é que não soube procurar.

Oripê Machado.
Oripê Machado
Enviado por Oripê Machado em 10/01/2012
Reeditado em 11/01/2012
Código do texto: T3433329
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