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A
Quando?

 

               Quando a violência nos remete a barbárie e esta nos aproxima da bestialidade, fica difícil descrever qualquer pensamento ou sentimento capaz de compreender certos acontecimentos.

               Li, estarrecida, que uma criança de oito anos foi queimada viva por madeireiros em Arame, cidade da região central do Maranhão. Também li que enquanto a criança – da etnia awa-guajá – agonizava, os carrascos se divertiam com a cena. Não encontrei nenhuma notinha sobre o caso em revistas de grande circulação, nem nos jornais televisivos. Aliás, o caso não ganhou destaque em nenhum meio de comunicação. Nenhuma ONG, OAB ou outra instituição que zele pelos direitos humanos fez barulho contra esse absurdo. 

               Mas, se amanhã ou depois de amanhã, um índio, revoltado com o tratamento que recebe soltar sua mão e atingir a cara de um fazendeiro ou madeireiro, em Arame ou em qualquer lugar desse meu amado Brasil, com certeza será capa dos principais jornais e revistas, rádios noticiarão e o assunto  será largamente explorado nas TVs e portais que farão questão de falar da “selvageria” dos índios, das tribos “não civilizadas” e da ameaça que elas representam para as pessoas de bem e para a democracia.

               E muita gente de bem vai concordar que “estes selvagens” são uns brutos e que existe “muita terra para pouco índio” e, principalmente, que eles atrapalham o crescimento do país.

               Esta situação é a mesma em todos os rincões do Brasil em relação a muitas parcelas da sociedade. Recentemente duas crianças negras foram confundidas com pedintes e expulsas do restaurante onde se encontravam com seus pais. Nenhuma notinha na grande imprensa, mas se elas realmente fossem meninos de rua e tivessem roubado alguma coisa, logo seriam manchetes e o Estatuto da Criança e do Adolescente seria lembrado como algo prejudicial. 

               O que me assusta, tanto quanto ou mais que os fatos em si, é a banalização da violência. Parece que nos acostumamos, que perdemos a capacidade de nos indignar. Que desistimos de reclamar. As lutas estão fragmentadas. Cada um em “seu quadrado”. Uns lutam pelos direitos dos animais, outros contra a homofobia, outros pelo meio-ambiente, outros por “enes” outras questões, mas parece não haver mais ninguém interessado em lutar pelo SER HUMANO em sua globalidade. 

               Os gritos ecoam separados. As bandeiras são diferentes e não se misturam. Há alguma coisa de muito errada em nossa sociedade. A fragmentação fragiliza, enfraquece, distorce. Tenho medo de lutas solitárias. Por que não lutamos unidos pelo respeito ao homem, aos animais e ao meio-ambiente? Não somos todos habitantes de um mesmo espaço? Por que não brigamos por justiça social, educação de qualidade e saúde para todos?

               Até quando continuaremos dividindo as lutas em dias D? Até quando legitimaremos a violência com nosso silêncio, nosso medo?  Até quando alimentaremos a intolerância com nosso comodismo? Até quando nos esconderemos dos bárbaros por trás do verniz da civilização? Até quando choraremos nossos mortes sem exigirmos punição de seus agressores/matadores? Até quando nossa humanidade suportará estes atos de barbárie?

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SOMOS TODOS FILHOS DE UM MESMO PAI, QUEIMADOS PELO MESMO SOL, CRIADOS  NA MESMA TERRA, BANAHDOS PELA MESMA ÁGUA, ILUMINADOS PELA MESMA LUA...


 
Ângela M Rodrigues O P Gurgel
Enviado por Ângela M Rodrigues O P Gurgel em 10/01/2012
Reeditado em 10/01/2012
Código do texto: T3433443
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